“Aqui tenho tudo debaixo de olho.” E é verdade. Aos fins-de-semana, Belmiro de Azevedo, acompanhado de sua mulher, Margarida, agarra o volante do seu BMW e ruma ao Marco de Canaveses. Na Casa de Ambrães, onde cresceu com os pais, pode reunir os três filhos, os sete netos, os antigos colegas do andebol e do curso, um grupo de caçadores ou de pescadores. Ou artistas, como Siza Vieira, médicos, como João Lobo Antunes, e outras personalidades, como Teresa Patrício Gouveia ou Álvaro Barreto. Pode acabar tudo à volta de uma caldeirada, daquelas que se comem com gosto. Por certo, não será “o Engenheiro” a cozinhá-la, porque só sabe “fazer café e grelhar um bom bife”. Mas será certamente sobre ele que as atenções se concentrarão.
Despido o fato e a gravata, o fundador da Sonae foi seguido pelos seus cães quando guiou a VISÃO num tour pelo seu pequeno paraíso. E pelo seu centro de processamento de kiwis, bem ali ao lado, onde mata saudades da indústria e veste a pele de produtor. Foi a segunda parte de uma entrevista que começou dias antes, no seu escritório da Maia.
Em breve, um dos empresários mais ouvidos do País fará 72 anos, mas continua a levar trabalho para casa. “Gosto muito de estar aqui. Está-se muito bem.” No escritório, pode sentar-se na poltrona azul, bem perto da lareira a ler as memórias de Adriano Moreira. “Um livro muito interessante.” Amado por uns, temido por outros, Belmiro de Azevedo também connosco partilhou memórias. Com o seu olhar crítico, apontou caminhos. Quer políticos mais “competentes”, um povo “mais exigente” e um país “mais criativo”
LEIA A ENTREVISTA NA VISÃO QUE CHEGA, ESTA QUINTA-FEIRA, 28, ÀS BANCAS
Destaques:
SONAE – “É incorruptível”.
INVESTIMENTO – “Acabe-se com o devaneio das grandes obras”.
GOVERNAÇÃO – “Bloco central, não. Senão vira ditadura a dois, compadrio. Neste momento, e quase direi por felicidade, não há um Governo de maioria”.
LÍDER DO PSD – “[Manuela Ferreira Leite] teve muitos anos de trabalho, mas no Estado. Nunca dormiu mal por ter a responsabilidade de saber como pagar salários”.
GOVERNO – “Tenho dificuldade em saber os nomes de metade dos que estão lá”
PROMESSAS – “Muitas vezes as promessas são feitas sem o Teixeira dos Santos assinar pior baixo”.
DEMOCRACIA – “Criou-se um sistema em que o povo vota pelas festas, frigoríficos e passeios”.
SALÁRIOS – “Os salários são baixos. O pessoal do meio é que ganha de mais. Têm de ser aumentados o último piso e o rés-do-chão”.
JORNAL “PÚBLICO” – “[José Manuel Fernandes] era acusado – e bem acusado – de não criar climas de consenso no jornal”.
SÓCRATES / PRESSÕES – “O primeiro-ministro telefona ou manda telefonar com muita frequência”
MARCELO – “[Marcelo Rebelo de Sousa] é pluri-pluri. Tem dez respostas, todas boas, para a mesma pergunta. Não sofre de pensamento único”.
PRESIDENCIAIS – “O Alegre devia ter juízo (…) No final do mandato já terá 80 anos, não é muito sensato”.
CAVACO – “Cavaco é um ditador. Mandou quatro amigos meus, dos melhores ministros, para a rua, assim, ‘com vermelho directo'”.
TGV – “O TGV está desenhado em função dos interesses espanhóis”.
ESPANHA – “Do ponto de vista político, o sistema espanhol é pior do que o nosso”.
CONCERTAÇÃO – “Os empresários têm muita força, mas quem tem mesmo força são os trabalhadores”.
SINDICATOS – “[Sindicatos] terão de se reformular se não quiserem desaparecer rapidamente”.
TRABALHADORES – “Para se ter uma sociedade coesa, os trabalhadores têm de ser bem tratados, não se podem explorar”.
PATRÕES – “Não há nenhum empresário sério que se reveja nas associações patronais”
REGIONALIZAÇÃO – “Podia ser interessante regionalizar a Educação”.