Como sempre, a Argentina apresentou-se em mais uma edição de um Mundial de futebol como favorita. Este ano, com o estatuto reforçado por um trajeto de 36 jogos consecutivos sem perder. Para além disso, contava com todos os seus melhores jogadores, pois até Messi recuperou da lesão a tempo de alinhar na partida inaugural. Mas aconteceu o que é habitual a quem acha que as camisolas ganham jogos. A sobranceria custou caro aos argentinos, que começaram o Campeonato do Mundo com uma derrota frente a Arábia Saudita, a equipa teoricamente mais fraca de um grupo que inclui ainda o México e a Polónia, que empataram a zero.
A vitória do underdog árabe só pode espantar quem não assistiu ao jogo. A postura da equipa alviceleste foi, desde o apito inicial, a de quem acredita que, mais tarde ou mais cedo, a vitória acaba por cair-lhe nos braços, algo que até parecia ir acontecer quando, logo nos minutos iniciais, Messi colocou a equipa em vantagem, na marcação de uma grande penalidade. Do outro lado, porém, esteve uma equipa saudita muito focada, executando com mestria a estratégia de deixar os avançados adversários em fora-de-jogo (a Argentina teve três golos anulados desta forma) e capaz de surpreender, no início da segunda parte, com dois grandes golos. Um deles (o segundo) candidato, desde já, a melhor do torneio. Depois, entre uma equipa aburguesada, que continuou a acreditar que a vitória haveria de lhe sorrir, e um grupo de guerreiros, dispostos a lutar até à última gota de suor, o triunfo acabou por sorrir a que mais fez por merecer. Um resultado histórico, que valeu ao povo saudita a possibilidade de, amanhã, gozar um feriado. Prenda do Rei Salman.
A poucos dias de Portugal se estrear neste Mundial, contra o modesto Gana, é bom que esta derrota serva de exemplo. Não basta ser favorito nas casas de apostas ou ter uma equipa recheada de craques. Para se estar mais próximo de vencer há que querer mais, correr mais e jogar mais que o adversário. No mínimo, é fundamental igual o esforço do adversário. Se assim for, o talento fará o resto. Caso contrário, até os grandes craques se põem a jeito.
É seguir o exemplo de Inglaterra e França, dois grandes favoritos que já entraram em campo. Com mais ou menos dificuldades, ambos cilindraram os primeiros adversários. A seleção dos Três Leões despachou o Irão de Carlos Queiroz e Mehdi Taremi por 6-2 e os gauleses goleou, apesar do susto inicial, a Austrália por 4-1.
Não é favorito quem quer. É favorito quem merece.