Edson Arantes do Nascimento, filho de dona Celeste e “seu” Dondinho, nascido em 23 de outubro de 1940, no estado brasileiro de Minas Gerais, que todos conhecem como Pelé, morreu esta quinta-feira, aos 82 anos, vítima de cancro. Para muitos o melhor futebolista de sempre, estava hospitalizado há várias semanas, numa unidade de cuidados paliativos do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, depois de ter deixado de responder aos tratamentos de quimioterapia.
O único tricampeão mundial da história do desporto-rei, a que juntou dois títulos de campeão sul-americano ao serviço do Santos, o clube que representou durante quase toda a carreira, ao longo de 18 anos, deixa um legado inigualável, como alguém que revolucionou o futebol com um talento esmagador para os seus pares.
Aqui recordamos cinco momentos marcantes da sua preciosa carreira, encerrada nos norte-americanos no New York Cosmos, com Muhammad Ali a ver e Caetano Veloso a ouvir.
Mundial de 1958
Pelé estreou-se na seleção brasileira com apenas 16 anos e, aos 17, foi chamado para jogar o Campeonato do Mundo na Suécia, em 1958. Que apresentação, que espanto, que estrondo: mais discreto na fase de grupos, marcou o golo solitário com que o Brasil eliminou o País de Gales, nos quartos-de-final, fez três dos cinco na goleada de 5-2 à França, nas meias-finais, e ainda apontou mais dois na final contra a seleção da casa (outra vez 5-2), um dos quais após fazer a bola passar por cima de um adversário. Nascia assim o rei do futebol e também o simbolismo mítico associado à camisola número 10, atribuída por acaso a Pelé, ainda hoje o mais jovem de sempre a marcar num Mundial. Numa votação online realizada pela FIFA, em 2006, foi também eleito o melhor jovem da competição, com efeitos retroativos de cinco décadas. Era, então, a primeira conquista do escrete canarinho na grande prova de seleções.
Final da Taça Libertadores da América de 1962
A primeira de duas conquistas seguidas do Santos na competição sul-americana equivalente à Liga dos Campeões europeia também teve selo de Pelé. Na final da Taça Libertadores da América de 1962, houve necessidade de recorrer a um jogo de desempate, depois de um triunfo tangencial para cada lado, frente ao Peñarol. Foi o pior que podia ter acontecido ao clube uruguaio, uma vez que Pelé estava finalmente apto a regressar à competição, restabelecido de uma lesão contraída durante o Mundial desse ano. No Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, capital da Argentina, terreno neutro, Pelé bisou numa vitória sem espinhas dos brasileiros, por três golos sem resposta, e marcaria encontro com o Benfica, na Taça Intercontinental.
Taça Intercontinental de 1962
Com o Estádio Maracanã a rebentar pelas costuras, o Santos recebeu o Benfica de Eusébio, Coluna, Simões e companhia, no dia 19 de setembro de 1962, para o jogo da primeira mão da recém-criada Taça Intercontinental. O campeão sul-americano contra o campeão europeu. Pelé assinou dois dos três golos da sua equipa, num triunfo por 3-2 que deixava tudo em aberto para o segundo duelo, em Lisboa, três semanas mais tarde. E, em pleno no Estádio da Luz, veio outra vez ao de cima o génio do brasileiro, autor de um hat-trick em cinco golos do Santos, que esteve a vencer por 5-0 até os encarnados reduzirem para 5-2 nos minutos finais. Depois do título mundial pela seleção, Pelé era coroado com o título mundial de clubes.
Mundial de 1970
Aos 30 anos, tornou-se o primeiro e até agora único futebolista a sagrar-se tricampeão do mundo em representação do seu país. Depois de uma lesão o ter empurrado para um papel secundário na conquista do Mundial de 1962 e de uma participação inglória na edição de 1966 (muito à custa de Portugal), o rei subiu de novo ao trono em 1970, no México. Acompanhado de Jairzinho, Tostão e Rivelino, saiu em ombros como o melhor jogador da competição e mais um título conquistado para o Brasil. Antes da final com a Itália, em que marcou o golo inaugural da vitória por 4-1, chorou, sozinho, sem ninguém o ver, de tão nervoso que estava, contou ele numa entrevista.
A despedida em Nova Iorque, em 1977
Pelé adiou o mais que conseguiu um final de carreira nos Estados Unidos da América, apesar dos dólares com que lhe acenavam desde que decidira deixar a canarinha, em 1971. Em 1975, depois de um telegrama do chefe da diplomacia norte-americana, Henry Kissinger, a solicitar ao governo brasileiro para interceder a seu favor, prestou-se a assinar um contrato de três anos com o New York Cosmos. Visitou a Casa Branca, deu uma tremenda visibilidade ao futebol na América, foi campeão. A menos de um mês dos 37 anos, no jogo do adeus, dia 1 de outubro de 1977, em Nova Iorque, perante 80 mil pessoas, entre os quais o pugilista Muhammad Ali e o lendário defesa inglês Bobby Moore (que haveria de estar a seu lado, no cinema, em 1981, no filme “Fuga Para a Vitória”, com Sylvester Stallone), despediu-se com uma mensagem de amor. “Love, love, love”, gritou o rei para os adeptos, num momento que serviu de inspiração para a música de Caetano Veloso, precisamente, com esse nome.