A corredora olímpica Shelby Houlihan, recordista norte-americana nas corridas de 1500 metros e 5000 metros, foi suspensa durante quatro anos depois de ter acusado positivo num teste antidoping. A notícia foi avançada esta semana pela própria atleta, na rede social Instagram, dando a conhecer que estaria fora de importantes competições, como os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, cujo início está marcado para 23 de julho. Houlihan defende que a culpa é de um burrito de porco que terá comido.
A atleta de 28 anos explicou na mesma rede social que, a 15 de dezembro de 2020, foi submetida a um teste pela Athletics Integrity Unit (AIU). Este controlo é realizado com o intuito de determinar se os desportistas utilizam substâncias proibidas que melhoram o rendimento. Houlihan terá recebido o resultado a 14 de janeiro, via email, no qual foi informada de que tinha testado positivo para uma substância chamada nandrolona e que estaria proibida de competir por um período de quatro anos. “Quando recebi o email, tive de o ler cerca de 10 vezes e pesquisar no Google o que era a substância a que tinha testado positivo. Nunca tinha ouvido falar de nandrolona”, escreveu a corredora.
Segundo o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, a nandrolona é um esteroide anabolizante sintético que favorece a produção de testosterona. É usado na terapia de reposição de testosterona em homens e em outros tratamentos. Mas também serve para melhorar a retenção de nitrogénio e aumentar a massa muscular, sendo “amplamente usado por atletas que precisam de potência e forma muscular”, escreve a FIFA. Em 2019, este foi o esteroide anabolizante mais detetado em atletas, segundo o relatório da Agência Mundial Antidoping (WADA na sigla em inglês).
O problema está no facto de a nandrolona também poder chegar ao sistema através da ingestão de carne de porco, nomeadamente nos “miúdos” (partes do fígado, coração e rins), dando origem a falsos positivos. A informação foi publicada pela WADA num estudo de 2015. “Aprendi que há muito que foi entendido pela WADA que comer porco pode produzir um falso positivo para nandrolona, uma vez que certos tipos de porcos podem produzi-la naturalmente em grandes quantidades. Carne dos órgãos do porco (“miúdos”) têm a maior quantidade de nandrolona”, explicou Houlihan na publicação.
Após saber essa informação, a atleta diz que começou a rastrear tudo o que tinha consumido nos cinco dias antes de realizar o teste. “Concluímos que a explicação mais provável foi ter sido um burrito comprado e consumido 10 horas antes de realizar o teste de doping de uma roulote de comida mexicana autêntica, que serve “miúdos” perto da minha casa, em Beaverton, no estado de Oregon. Notifiquei a AIU em como acredito que essa seja a fonte”, escreveu a desportista.
Houlihan tentou recorrer da decisão no Tribunal de Arbitragem do Desporto, no entanto, foi informada a 11 de junho de que a sua explicação não tinha sido aceite. A atleta acredita que está a ser injustiçada e culpa o laboratório pela forma como apresentou os resultados. Na publicação, explica que os níveis de nandrolona acusados eram consistentes com os indicados no estudo se tivesse tido um consumo 10 horas antes de realizar o teste. Acredita que o laboratório podia ter considerado o resultado atípico e pedido a realização de mais testes.
“Fiz tudo o que podia para provar a minha inocência. Passei um teste de polígrafo. Tive uma amostra do meu cabelo testada por um dos melhores toxicologistas do mundo. A WADA concordou que o teste comprovou que não existia uma acumulação dessa substância no meu corpo, que existiria se a tomasse regularmente. Nada moveu o laboratório da sua decisão inicial. Ao invés, apenas concluíram que era uma batoteira e que tinha ingerido o esteroide oralmente, mas não regularmente. Acredito que a minha explicação encaixa melhor nos factos porque é verdade. E também acredito que foi descartada sem o procedimento próprio”, acrescentou a desportista olímpica.
Em declarações à CNN, a AIU afirmou: “Nós aplicamos o Código Mundial Antidoping de forma igual aos atletas de todo o mundo.” Já relativamente ao caso de Houlihan, a AIU publicou uma nota de imprensa na qual se pode ler: “O caso foi analisado por um painel com três membros no Tribunal de Arbitragem do Desporto que tomaram a sua decisão depois de analisarem as provas e os argumentos dos advogados da atleta e da AIU.”
Também o Tribunal de Arbitragem do Desporto confirmou que o painel de júris tinha “unanimemente determinado que Shelby Houlihan tinha falhado” em provar como a nandrolona tinha chegado ao seu sistema.
Houlihan revelou ainda que o seu sonho, desde os cinco anos, era ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, sonho que agora se vê impedida de realizar. “Sinto-me completamente devastada, perdida, partida, zangada, confusa e traída pelo desporto que amei e ao qual me dediquei apenas para ver quão boa podia ser”, escreveu.
Esta não é a primeira vez que atletas justificam o teste positivo para a nandrolona com o consumo de carne de porco. O mais recente caso foi, também, de um corredor, James Kibet, do Quénia. Ele foi acusado em fevereiro de 2021, tendo-lhe sido aplicada uma suspensão de quatro anos, na sequência de um teste à urina, em 2019. O atleta argumentou que o resultado se devia ao consumo de carne de porco de uma loja chamada Glorious Pork Joint. No entanto, foi decidido que, embora Kibet tivesse dado informações adicionais, não havia apresentado uma amostra da carne da loja em questão para ser testada.