Kobe Bryant, que morreu aos 41 anos num acidente de helicóptero, era considerado um dos melhores jogadores de sempre da Liga Norte-Americana de Basquetebol (NBA). Conhecido como o ‘Black Mamba’, chegou à NBA com 17 anos e durante 20 vestiu a camisola dos Los Angeles Lakers.
O norte-americano é idolatrado um pouco por todo o mundo, onde tem sido homenageado das mais diversas formas e agora chegou a vez de Lisboa.
“Tínhamos vontade de realizar uma homenagem àquele que é um dos nossos heróis, mais ainda desde a sua morte trágica. Andámos durante muito tempo à procura do espaço certo em Lisboa e acabámos por vir aqui parar porque tinha sido sinalizado pela Galeria de Arte Urbana (GAU) [da Câmara Municipal de Lisboa] o campo e a empena como potencial para realizarmos uma intervenção”, contou à Lusa o fundador da plataforma comunitária para jogadores e fãs de basquetebol Hoopers, André Costa.
O campo, situado perto da Calçada de Carriche quase na fronteira com Loures e Odivelas, é “histórico”, “porque sempre foi frequentado por pessoas de diferentes concelhos, etnias, origens”, e representa “um dos valores do desporto” que a Hoopers quer promover, “que tem que ver com o espírito de equipa”.
“A grande homenagem é ao Kobe, mas estamos a homenagear também o que é o espírito de equipa e os valores que um lugar como este tem promovido ao longo dos últimos anos”, referiu André Costa.
Este é o terceiro projeto do género desenvolvido pela Hoopers. O primeiro foi em Braga, com a arte de Contra, e o segundo em Lisboa, em Chelas, pelos Halfstudio.
Para eternizar Kobe Bryant no Lumiar, a Hoopers e a GAU desafiaram Hélio Bray, que na altura em que o basquetebolista morreu criou uma peça para um familiar deste, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
“Quando surgiu este projeto foi a cereja no topo do bolo e senti, logo à primeira, que o deveria fazer”, disse Hélio Bray à Lusa.
O norte-americano é uma figura que inspirou o ‘writer’ português, de 36 anos, desde a adolescência, e “dar continuidade” ao trabalho que fez em Los Angeles, sobre uma pessoa que “inspirou tantos jovens e continua a inspirar” é uma “satisfação pessoal”.
Hélio Bray ‘dividiu’ o trabalho em três partes: o campo de basquetebol, a lateral das escadas de acesso a um prédio, e a empena do edifício de 12 andares.
No centro do campo, Hélio Bray pintou dois círculos, figura que utiliza frequentemente nos seus trabalhos, que juntos fazem um 8, número que Kobe Bryant “sempre utilizou bastante” e que deitado é o símbolo do infinito.
“Com os dois círculos consegui reproduzir o 8 da camisola dele, com a assinatura dele no centro do campo. É uma forma de o eternizar, se é que seja necessário”, referiu.
No ‘primeiro balcão’, Hélio pintou uma expressão “muito forte, que o Kobe sempre utilizou: ‘no excuses’ [‘sem desculpas’, em português]”. A expressão foi pintada “numa linguagem mais de rua, mais de ‘graffiti'”.
A pintura na empena do prédio tem Kobe Bryant como figura central, mas como o basquetebolista sempre promoveu o espírito de equipa, com ele foram também retratados “os outros quatro magníficos dos Los Angeles Lakers”: Pau Gasol, Derek Fischer, Shaquille O’Neal e Robert Horry.
André Costa fala nestes quatro jogadores da NBA como “os quatro colegas de equipa mais influentes na carreira do Kobe”.
Este projeto fez com que Hélio Bray, que começou a pintar no final da década de 1990, trabalhasse pela primeira vez numa “escala tão grande”.
Para preparar o trabalho criou uma maquete, com 1,40 metros de altura, que pintou à mão. “Foi tudo mapeado e projetado à escala, passado dos 1,4 metros para 52 metros”, contou.
Hugo Cardoso, da GAU, destaca que esta é “das maiores empenas” intervencionadas artisticamente em Lisboa. Outra das maiores está situada na mesma freguesia, junto dos antigos estúdios da Tobis, perto da Alameda das Linhas de Torres, e é da autoria do argentino, sediado em Espanha, Filipe Pantone.
Este projeto de homenagem a Kobe Bryant entra na “estratégia de requalificação de espaços desportivos” que a GAU está a desenvolver, e que, além de campos de basquete inclui também campos de futebol e parques de ‘skate’.
Esta estratégia da GAU começou em 2019, com a requalificação do campo de basquete do Campo Mártires da Pátria, intervencionado pelo português Aka Corleone, e ficou entretanto ligada à Lisboa Capital Europeia do Desporto 2021.
Este é o primeiro campo “intervencionado com Arte Urbana” na freguesia do Lumiar, mas a junta local tem “ideias para outros”, como disse à Lusa o presidente da autarquia, Pedro Delgado Alves, salientando que naquele território há “várias equipas que se destacam” naquela modalidade desportiva, como o Sporting Clube de Portugal e a Academia do Lumiar.
Pedro Delgado Alves salienta que, com a empena dedicada a Kobe Bryant, o Lumiar fica com “duas das pinturas mais altas da cidade, a juntar à mais extensa [Rotunda dos Corvos, na Alta de Lisboa, por Raf e Sof] e à mancha mais ampla [talude na Alta de Lisboa intervencionado por Raf]”.
JRS // TDI