No domingo, as seleções espanhola e albanesa defrontaram-se num jogo da fase de grupos de apuramento para o Mundial de futebol de 2018. A Espanha saiu vitoriosa (2-0). Mas houve uma situação que despertou tanta ou maior curiosidade do que o próprio jogo.
Gerard Piqué jogou com uma camisola de mangas compridas, como é seu costume. Mas para as redes sociais algo estava errado naquela camisola – faltavam as riscas com as cores da bandeira espanhola. O jogador do Barcelona já está habituado a ser o centro de polémicas. E assim nasceu mais uma.
De facto, Piqué mexeu na camisola. Por sentir que as mangas estavam demasiado curtas para si, decidiu cortá-las a meio e levar uma camisola interior por baixo. Acusado de ter cortado intencionalmente as riscas coloridas das mangas, o defesa central catalão levou para a zona mista uma camisola de mangas compridas, a fim de mostrar aos jornalistas que toda a história não tinha fundamento. Porque ao contrário das camisolas de manga curta, as de manga comprida não tinham as riscas.
Foi a gota de água para o jogador, que anunciou o adeus à seleção espanhola após o Mundial de 2018.
O fator independentista
Piqué nunca escondeu ser a favor da independência da Catalunha e isso talvez tenha influenciado muitas das polémicas criadas à sua volta, que puseram em causa o seu desempenho na La Roja, como é conhecida a equipa nacional de Espanha.
No primeiro jogo do Euro 2016, frente à República Checa, foi um golo de Piqué, a três minutos do fim, a proporcionar a vitória. Nem esta nem as suas outras 63 ao serviço da seleção foram suficientes para o deixar de fora de controvérsias na competição. Oito dias depois, perante a Croácia, o central seria acusado de fazer um gesto obsceno enquanto se ouvia a Marcha Real.
Carles Puyol, Xavi Hernández, Piqué e Pep Guardiola no futebol, Manel Estiarte no polo aquático, Anna Tarrés e Ona Carbonell na natação sincronizada, Enric Masip no andebol, Alex Fàbregas no hóquei, Pau Gasol no basquetebol. Todos eles são catalães e todos tiveram um ótimo desempenho enquanto representaram a seleção espanhola.
Alguns já se expressaram publicamente a favor da independência catalã, pelo menos, em termos desportivos. Por exemplo, Ona Carbonell deixou clara a sua posição ao dizer que, “se tivesse que escolher a seleção espanhola ou catalã, decidiria jogar pela catalã”.
Pelo mesmo caminho seguiu Alex Fàbregas. Diz ele que só jogou pela seleção de hóquei espanhola porque era a única opção que tinha de participar nos Jogos Olímpicos e que não se sente espanhol, mas sim catalão.
Também Pep Guardiola, depois de jogar 47 vezes pela seleção espanhola e já no papel de treinador, mostrou o seu apoio à causa independentista: “Se tivesse havido uma seleção catalã, teria jogado pela Catalunha.”.
São poucos os que renunciam à equipa nacional por motivos do género. Um exemplo é o do basco Iñaxio Kortabarría, que, depois de quatro internacionalizações, renunciou publicamente à seleção espanhola por razões independentistas.
Oriol Rosell, um futebolista que joga atualmente no Belenenses, disse também que, caso fosse convocado para jogar por Espanha, não aceitaria: “Em primeiro lugar está aquilo que penso e os meus ideais. Muitos jogadores não opinam sobre a independência da Catalunha porque têm medo de se expressar livremente.”
Se houvesse opção, talvez muitos destes atletas não jogassem por Espanha. Guanyarem – em português, “Ganharemos” – é uma campanha que pretende conseguir o reconhecimento das seleções desportivas catalãs e conta com o apoio de muitos atletas de que já falamos, como Piqué, Puyol e Xavi.
O tema da independência da Catalunha promete manter-se aceso nos próximos tempos. O Presidente catalão anunciou que vai convocar um referendo sobre a independência para setembro de 2017, com ou sem a aprovação do estado espanhol.
Muitos espanhóis já pediram desculpa a Gerard Piqué pela polémica e torcem agora para que ele mude de ideias.