Para superar o desafio de comer no Parque Olímpico do Rio 2006, na Barra, os espectadores não são obrigados a ter a preparação física dos atletas olímpicos, mas precisam de possuir algumas das características dos campeões para atingirem o seu objectivo: tenacidade, resistência, foco e muita paciência.
É normal em grandes acontecimentos deste género que, na hora de comer, seja preciso enfrentar uma espera de alguns minutos numa fila. Mas se essa situação era inevitável, a verdade é que a organização dos Jogos Olímpicos do Rio tomou algumas decisões que fizeram com que essa espera fosse multiplicada. Literalmente por várias filas.
“É a maior bagunça”, reconhece, um voluntário que desempenha as funções de supervisor. “Mas nós não podemos fazer nada”, lamenta. “E nós também não, mas que confusão”, respondem os muitos espectadores, que vão tentando perceber como funciona o sistema implantado no parque principal do Rio 2016, e que recebe diariamente milhares de espectadores para assistirem às provas de natação, basquetebol, judo, ténis, esgrima, andebol, ginástica e ciclismo, entre outras modalidades e desportos.
Para alimentar todos os espectadores, a organização montou diversas tendas, todas com o mesmo menu de comida rápida, dividido por massas, sandwiches, pizza e bebidas. Cada tenda distribui apenas um tipo de comida. Mas que só pode ser recolhida pelo espectador depois de, antes, fazer o pedido na caixa. É por aí que começa a prova olímpica dos visitantes do Rio 2016.
Encomendar e pagar – Não é preciso decidir depressa o que se quer comer. As filas são tão grandes que até dá tempo para mudar de opinião várias vezes. Para tentar evitar o caos do primeiro dia, amplamente criticado nos media brasileiros, a organização aumentou o número de pagamentos móveis – voluntários equipados com terminais de pagamento – mas, com isso, na verdade, apenas fez aumentar o número de filas.
Recolher a comida – Depois de feito o pagamento, o espectador recebe um longo talão, com os vários itens que pagou. Começa aí a verdadeira prova. Imagine que, como está acompanhado de outra pessoa (como a maioria dos espectadores!!), comprou uma sandwiche, uma mini-pizza, um pacote de batatas, duas empadas e duas cervejas. Parece simples, não é? Engano: tem que ir para a fila das sandwiches, entregar o talão e receber a comida. Depois, sai dessa fila e passa para a fila da tenda do lado, para levantar as batatas e as empadas. E, logo a seguir, vai para a fila das bebidas. Sempre filas umas a seguir às outras.
Pedir factura – Mas atenção que a “competição” ainda não terminou. Para além de ter que ir comer numa grande praça quase sem uma única sombra, o espectador pode ainda ficar sujeito a uma nova prova pós-competitiva, caso decida pedir factura daquilo que gastou.
“Não tem factura nem nota fiscal”, respondem todos os funcionários, tentando explicar, na maioria das vezes sem qualquer êxito, que a organização não está obrigada a dar facturas porque este é “um evento especial”. Mas, com a tradicional simpatia brasileira, tentam arranjar uma solução para o espectador. Entregam uma folha de papel e dizem: “Escreva aqui o seu e-mail e o quanto gastou que nós depois enviamos a factura”.
Era a prova que faltava para confirmar que comer no Rio 2016 é mesmo uma prova olímpica: o resultado final até fica dependente de uma espécie de controlo anti-doping. Neste caso, controlo da factura. Mas vejamos o lado positivo: ao menos aí já não tem fila.