Helene Mayer tinha 20 anos e já era uma das maiores esgrimistas da Alemanha. Desde os 13 anos que acumulara seis campeonatos nacionais, um campeonato da Europa e outro do mundo. A imagem de uma mulher elegante, de olhos verdes, com 1 metro e 80 de altura, e considerada um prodígio da esgrima, estava por toda a parte.
Mas em 1931 tudo começaria a mudar. Viu o pai, médico e judeu, morrer de ataque cardíaco. No ano seguinte, durante os jogos olímpicos de Los Angeles, a duas horas da final, seria informada de que o noivo também tinha morrido, numa missão militar.
A campeã acabaria em quinto lugar, acabando depois por mudar-se para a Califórnia, evitando presenciar a ascensão de Hitler e as mudanças na política alemã. Em menos de nada, Helene Mayer passou de atleta-amada a exilada, acabando por perder grande parte dos seus direitos devido à ascendência judia.
Helene pensava estar condenada a nunca mais poder pisar o seu país. Mas a proximidade dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, levaria o mais improvável a acontecer. Com o evento prestes a ser boicotado, com os Estados Unidos, Canadá, França e Grã-Bretanha a liderarem um protesto junto do Comité Olímpico Internacional contra a propaganda nazi, a atleta exilada acabaria por transformar-se na salvação de Hitler – que precisava de alguém como Helene, metade alemã, metade judia, para alegar que não havia discriminação.
A esgrimista aceitaria de imediato o convite: acabaria por contar mais tarde que, mais do que qualquer outra coisa, se sentia alemã. Dos 21 atletas judeus que foram convidados para as provas classificatórias, Helene Mayer seria a única a não ser desclassificada.
Gretel Bergmann, especialista em salto em altura, por exemplo, acabaria por ser afastada depois de saltar 1,60 metros, a mesma marca com que uma atleta húngara venceria a medalha de ouro nos jogos de Berlim. Ninguém ousava protestar. Helene Mayer seria a única alemã filha de um judeu a desfilar debaixo da bandeira do Terceiro Reich. Na final, perdeu contra uma húngara, acabando por vencer uma medalha de prata. No pódio, fez a saudação nazi e apertou a mão de Adolf Hitler.

Fazendo, no pódio, a saudação nazi
No ano seguinte, ao mesmo tempo que os seus trunfos desportivos eram ignorados pela imprensa alemã, Helene voltava a perder os seus direitos enquanto cidadã alemã. Seguiu para os Estados Unidos, enquanto familiares e colegas eram enviados para campos de concentração ou eram assassinados em plena Segunda Guerra Mundial. Em 1940, acabaria por ceder: mudou umas letras do nome para o tornar mais americanizado – passou a ser Helen Meyer –, adquiriu nacionalidade americana, fixou-se em São Francisco e começou a dar aulas de esgrima, alemão e ciências políticas numa universidade da Califórnia.
Desta vez era de vez? Nunca mais regressaria à pátria? Não. Uma década depois, quando a Alemanha já não era mais a Alemanha de Hitler, Helene voltou à base, onde acabaria por casar com um amigo de infância, um engenheiro de Estugarda. Aquela que seria considerada pela revista Sports Illustrated como uma das 100 maiores atletas do século XX morreria de cancro, pouco tempo depois, em 1953, com 42 anos.
E na Alemanha. As razões por que aceitou participar naqueles jogos, dando origem à imagem icónica em que, vestida de branco, faz a saudação nazi, permanecem até hoje um mistério – devido às suas poucas entrevistas e à sua morte precoce. Helene estaria de facto preocupada com a família? Ou queria apenas competir, não importava onde nem por quem? A realizadora que fez um documentário sobre a sua vida, em 2008, concluiu simplesmente: “O que penso dela? Que era uma pessoa egoísta.”