O líder
1 – “Creio que por detrás de um grande treinador, como por detrás de um grande general, tem de estar, acima de tudo, uma grande pessoa”
2 – “Um treinador é um exemplo e uma referência. Tenho de ser o primeiro a dar o exemplo. Se exijo o máximo aos meus jogadores, tenho de ser o primeiro a dar o máximo”
3 – “Como treinador, mesmo nos períodos de maior turbulência – e fui atravessando vários momentos ao longo do caminho, com alegria e deceções, como é lógico –, sempre tive esta ideia na cabeça de que tinha de encontrar desafios, e superá-los, porque entendo que isso é crucial para o desenvolvimento de qualquer treinador. Foi assim que fui subindo, a pulso, patamar a patamar, sabendo saborear as vitórias, muitas vezes surpreendentes e inesperadas, e sabendo encaixar as derrotas, porque a vida é assim, e a de um treinador ainda mais”
4 – “Se tivermos sempre presente que a vida de treinador é ter um ou dois dias de glória por vários meses ou anos de angústias, teremos obrigatoriamente que ser persistentes. Só assim podemos fortalecer a confiança, mesmo nos momentos mais adversos”
5 – “Um comandante não poderá ser um exemplo para os seus soldados se não for persistente. A persistência é outra das características do líder. Isto não acontece apenas no futebol: não vejo campeões, em nenhuma modalidade, sem glória, sem sofrimento. E o treinador tem de ser o primeiro a estar à frente nos momentos em que apetece baixar os braços. O treinador tem de persistir”
6 – “É importante olhar para esta profissão de treinador não com o objetivo de ganhar muito dinheiro ou ser famoso. É preciso olhar para esta profissão de uma maneira empenhada, envolvidíssima, comprometidíssima, e ter a noção clara daquilo que é a profissão em si. A paixão é determinante”
A equipa
7 – “Na minha equipa técnica, tenho dois elementos que se ocupam mais da relação direta com os jogadores, numa ligação mais estreita. Não estou de todo encerrado num cubículo fechado, longe de tudo. Mas a vantagem desta posição é conseguir ter uma maior capacidade de análise e intervir quando considero que é necessário. É ver a floresta e não as árvores. Posso entrar para o meio das árvores, mas depois volto para o meu lugar, que é de fora. Se estivermos dentro, é muito mais difícil sair depois. Penso que os jogadores também precisam de ver no treinador uma figura com toda a autoridade e legitimidade para dizer não, para indicar o caminho mesmo quando parece o mais adverso, e para puxar as orelhas a alguém quando é necessário”
8- “Quando a minha equipa se prepara para jogar contra um adversário teoricamente mais fraco, eu aumento a pressão e, inversamente, quando o adversário que nos espera é teoricamente mais forte, eu vou tentar aliviar a pressão, transmitindo ao mesmo tempo muita confiança”
9 – “A riqueza de uma equipa, do meu ponto de vista, está em ter um sistema tático, um modelo de jogo próprio, entrar a jogar de uma determinada forma e poder, com muita facilidade, e sem que nada o indicie ou permita prever, alterar esta forma de jogar e este posicionamento. Criam-se pequenos efeitos surpresa, uma instabilidade constante na equipa adversária, impedindo que esta esteja estável. É esta dinâmica que, em última análise, dá brilho, emoção e inteligência ao futebol”
10 – “Os meus jogadores sabem muito bem o que pretendo, aquilo que procuro. Sabem que têm de ser muito aguerridos, muito determinados. Que têm de lutar até ao fim por todos os lances. E, isto, começa a ser transmitido e trabalhado desde o primeiro dia, quer na comunicação verbal quer nos próprios exercícios de treino”
Os jogadores
11- “Um bom jogador não deve ser visto simplesmente pelas suas qualidades futebolísticas. Deverá ser uma mistura de ‘corpo, mente e coração’ com talento e trabalho”
12 – “Quando escolho jogadores para trabalharem comigo, procuro conhecer exaustivamente a sua personalidade, o seu estilo de vida, qual a sua trajetória em termos de vitórias e derrotas, como encaixa uma subida, uma descida”
13 – “Uma equipa é feita de jogadores em diferentes posições, do guarda-redes ao ponta de lança. Mas uma equipa resulta da combinação acertada de diferentes perfis mentais. Nos dias de hoje, a parte mental tem uma importância decisiva e, por isso, deverá ser tida muito em conta para formar uma equipa mentalmente forte, coesa e equilibrada”
14 – “Gosto de trabalhar com jogadores que queiram muito crescer. Esse desejo de se superarem, de conquistarem, de progredirem, no fundo de mostrarem o que valem porque não está tudo feito e há ainda muito a provar, funciona como um motor poderosíssimo na sua ‘performance’ para o rendimento da equipa”
15 – “A minha perspetiva enquanto treinador é sempre a de dar aos meus jogadores argumentos, ferramentas, para que eles possam melhorar a sua tarefa, para os ajudar a resolverem os seus próprios problemas. No fundo, querer dotar os meus jogadores de todos os meios para alcançarem o seu melhor”
16 – “Quando um jogador me dirige uma pergunta, eu tenho de estar preparado para lhe dar uma resposta, e, quanto mais na ‘ponta da língua’, melhor. Por isso, um treinador tem de tentar dominar o melhor possível várias matérias para poder dar resposta a solicitações, inquietudes ou dúvidas dos jogadores. De outra forma, quebra-se a confiança, quebra-se a liderança”
As vitórias
17 – “A questão é esperar pelo momento certo e resolver o jogo. E temos que ter consciência que esse tempo quem o pode controlar somos nós. Como comandantes temos de ter muito claramente essa perceção. Não tem de ser necessariamente o tempo que os outros julgam ser o certo, aquele esperado pelos outros. Temos o nosso próprio tempo. O importante é termos consciência do ritmo do nosso relógio e nunca perdermos de vista a meta, o objetivo”
18 – “Após a vitória, o líder tem de ser o primeiro a dizer que podemos e devemos comemorar, mas, imediatamente a seguir, devemos focar-nos no próximo jogo, porque daí a dias apresenta-se um novo desafio, mais uma oportunidade para vencer”
19 – “Quando se trata de derrotar um adversário, às vezes essa vitória não acontece no momento que nós mais queremos. Acontece, realmente, no momento em que estamos prontos para o derrotar. Há que saber preparar e esperar por esse momento. O momento certo”
A estrutura
20 – “A um nível de alta competição, em que os pequenos pormenores são determinantes, a mente do jogador tem de estar focada no seu trabalho, na sua equipa. Devemos, pois, procurar, por mais pequena que seja a estrutura de um clube, dar todo o apoio ao jogador nestas questões logísticas; em primeiro lugar, para fazer com que se sinta bem e, naturalmente, para poder ter argumentos que nos permitam depois exigir que dê o seu melhor”
21 – “O treinador está numa posição central em que, para além de uma liderança de cima para baixo com os seus jogadores, tem de conseguir criar uma liderança de baixo para cima, isto é, fazer com que a direção siga a sua linha de pensamento e as suas ideias de modo natural. Liderar não só a sua equipa de trabalho, mas conseguir, a partir do seu lugar, que os seus dirigentes o sigam”
Nota: Ainda antes de ser treinador do Benfica, Rui Vitória publicou em livro, em novembro de 2014, as suas ideias sobre o futebol, os jogadores e a organização das equipas. É dessa obra – A Arte da Guerra para Treinadores –, inspirada no clássico de Sun Tzu, que retiramos algumas das suas citações mais significativas