O futuro tem tendência para envelhecer mal. Expliquemo-nos: nada há de mais anacrónico e risível do que vermos antigas profecias que tentavam adivinhar, mesmo prever, os dias vindouros e não só falham rotundamente como nos fazem sorrir na sua ingenuidade ou nos seus traços que, praticamente sempre, falam mais das preocupações e referências do seu tempo do que do insondável porvir.
No extraordinário século XIX não terá havido ninguém que se tenha dedicado mais, ao longo da vida, a imaginar o futuro de forma tão continuada, pública e obsessiva. Falamos do francês Júlio Verne, desaparecido há 120 anos, a 24 de março de 1905, aos 77 anos. Mas não é exatamente por ter sido um profeta visionário, um certeiro adivinho barbudo, que o seu nome sobrevive tantos anos depois. Fascinado com os avanços tecnológicos e científicos do seu tempo, Júlio Verne refletiu bem o século em que viveu e deu-lhe uma forma literária única, que nos faz facilmente olhar para o seu nome como um pai, ou avô, da ficção científica, esse género fantástico e cheio de potencialidades que tanto se desenvolveu ao longo do século XX e chegou ainda entusiasmante ao XXI. No meio de tantas maquinetas, mecanismos e profecias, é fácil encontrar elementos que ecoam no presente e nos anos que se seguiram à sua morte, mas é ainda mais fácil perceber que ele foi só mais um a espalhar-se ao comprido tentando, com seriedade, prever realidades.
