1 “Vagar” instaurou-se como epicentro e gatilho temático da candidatura vencedora de Évora a Capital Europeia da Cultura (CEC) em 2027, preconizando e exaltando assim uma mundividência e atitude vivencial estimulantes e inspiradoras intimamente associadas às especificidades e potência(s) daquele território – amiúde percecionado, redutoramente, como “periférico”. Curiosamente, ao mesmo tempo, essa desaceleração/lentidão pode ser um interessante pretexto para abordar precisamente o seu significado contrário, numa reflexão (auto-)crítica: os desafios, dificuldades e entropias atinentes à gestão, fixação, permanência e atração para zonas do interior na contemporaneidade, neste caso em cidades médias com vincado caráter cultural.
Ambas as perspetivas são relevantes e produtivas em termos de leitura (des-)construtiva da realidade eborense, daí que o “vagar” seja um conceito especialmente operativo. Não apenas para destacar as identidades e suas representações sociais e simbólicas, sublinhar a positividade do modus vivendi, estimular/envolver os agentes locais e dar-lhes alento, como também para retratar e questionar “temas difíceis”, tendências e ritmos de evolução socioeconómica e cultural, narrativas (imagens/miragens, realidades e perceções), participação dos cidadãos, ou ainda para lançar interrogações divergentes e inovadoras, e traçar renovados caminhos de futuro.