O que o fez querer trabalhar em Portugal? Os conceituados arquitetos portugueses tiveram alguma influência na aceitação dos projetos?
Sempre encontrei semelhanças entre Portugal e o Japão, nomeadamente nas suas relações com o mar. Fazer projetos em Portugal era um dos meus sonhos. Quanto à arquitetura portuguesa, Álvaro Siza tem desempenhado um papel vital após o movimento modernista. Já visitei muitas das suas obras e aprendo muito [em maio, foi organizado um encontro entre ambos os arquitetos, no Porto].
Tem projetos nas duas principais cidades de Portugal, Lisboa e Porto, e também no interior. Ficou surpreendido com as diferenças existentes em um país tão pequeno?
Tal como o Japão, Portugal estende-se de norte a sul com uma topografia íngreme e montanhosa. O país é abençoado com uma variedade de climas e culturas e inspiro-me nesta natureza diversa.
Utiliza dois conceitos japoneses nestes projetos: Komorebi, no antigo matadouro do Porto; e Engawa, no CAM, em Lisboa. O resto do mundo pode aprender com a cultura japonesa?
A arquitetura precisa de acomodar a natureza em rápida mudança em que vivemos atualmente. Komorebi, por exemplo, é uma expressão que se refere ao aproveitamento da luz solar filtrada pelas folhas das árvores. Engawa na Gulbenkian liga a natureza (o jardim) e o edifício, e vai mostrar um novo modelo de arquitetura para o museu do século XXI, que desempenhará o papel não só de um local para mostrar obras de arte, mas também para oferecer uma experiência especial aos visitantes.
E com o projeto para o Matadouro, no Porto, que cidade pretende moldar?
O nosso plano é preservar e proteger a estrutura antiga e adicionar um grande telhado no topo, e espero que a combinação seja como tocar um concerto musical perfeito. Acredito que o projeto pode propor uma nova abordagem para preservar e renovar os edifícios neste século.
Foi o escolhido para projetar o Pavilhão de Portugal na Expo25 Osaka, uma decisão criticada por alguns arquitetos portugueses, porque pela primeira vez coube a um estrangeiro essa missão. Como responde aos críticos?
Não vemos a nossa prática limitada a um espaço físico, mas trabalhamos em todo o mundo e construímos ambientes na esperança de inspirar as pessoas. Atravessar fronteiras, trocar ideias e construir pontes culturais é uma grande parte da prática arquitetónica atual e do nosso ADN. Temos um grande respeito pelos arquitetos portugueses e somos continuamente inspirados pela qualidade do seu trabalho e design. Japão e Portugal partilham uma rica história de intercâmbio cultural. Nos últimos anos, tive o privilégio de trabalhar em estreita colaboração com artesãos e designers portugueses, aprendendo com eles. Em troca, trazer parte desse conhecimento de volta para o Japão é uma oportunidade maravilhosa.
Um elemento-chave é a corda que utilizamos no pavilhão. Simboliza a ligação entre o humano e o mar e uma ferramenta essencial para trabalhar no mar. As cordas aqui também podem suavizar a imagem da estrutura que tende a acabar como uma massa de betão duro e pesado.
Afirmou que a Covid-19 foi um ponto de viragem. As pessoas perceberam realmente a importância de estarem conectadas com a natureza?
Eu próprio fugi da congestionada Tóquio durante a pandemia e criei um novo escritório em Hokkaido, no extremo norte, e em Okinawa, no extremo sul, mas muitas pessoas no mundo agiram da mesma forma – regressaram a um ambiente menos agitado, com natureza abundante ou ficaram em teletrabalho. Penso que não voltamos ao modo de vida pré-pandémico. Já estamos a criar um novo estilo de vida.