Em noite de Oscars, há dois assuntos predominantes: a lista dos vencedores e os visuais escolhidos pelas estrelas. Este último tópico alimenta o glamour que muitos admiram na noite de uma premiação que é assistida a nível mundial e que começa com um desfile de estrelas na passadeira vermelha. Da roupa ao penteado, maquilhagem e acessórios, tudo é pensado ao detalhe por uma equipa que se move nos bastidores e faz escolhas com base em acordos que existem com marcas ou estilistas.
Emily Sanchez, stylist que já vestiu celebridades como Naomi Watts ou Glenn Close para os Oscars, conversou com o Independent e revelou que muitas das escolhas são feitas tendo como base as ligações pessoais que os famosos têm com os designers. “Faz sentido que honrem esses relacionamentos”, justifica, admitindo que os responsáveis por escolher visuais muitas vezes começam os contactos com as marcas semanas antes das nomeações. Contudo, muitas casas de alta costura só decidem que atores e atrizes querem vestir depois de a Academia divulgar a lista de nomeados. “As marcas querem vestir os nomeados e os apresentadores, pois isso traz maior projeção”.
Sanchez não comenta se há custos envolvidos, mas a stylist Jessica Paster, que já vestiu atrizes como Cate Blanchett, e Sandra Bullock, confirma que é comum uma estrela receber dinheiro para vestir uma marca. “Acontece de um modo geral. As marcas de joias pagam, as marcas de calçado pagam, todos estão a pagar!” Ainda assim, Paster admite que nem tudo está dependente do valor monetário: “Se o vestido não fica bem à cliente, não vale a pena usá-lo por 200 mil euros. Agora, se fica lindo, porque não receber dinheiro?”
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Kevin Winter/Getty Images
Em 2017, Karl Lagergeld acusou Meryl Streep de ter recusado vestir Chanel nos Oscars depois de inicialmente ter acordado que o faria. “Fiz um esboço e comecei a criar o vestido”, expôs à revista Women’s Wear Daily, revelando que depois recebeu uma mensagem que dizia: “Não continues o vestido. Encontrámos alguém que nos vai pagar”. De facto, a atriz surgiu na cerimónia numa criação Elie Saab, mas nunca comentou a acusação do antigo diretor criativo da Chanel.
Contudo, há também atores que aceitam vestir uma marca sem pagamento adicional, mas pela oportunidade de criarem essa parceira ou de conseguirem obter uma peça de alta-costura especial. É o caso de Lupita Nyong’o, que ficou com o vestido azul Prada que usou em 2014, ou de Glenn Close, que mantém o Carolina Herrera que vestiu em 2019.
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Dan MacMedan/WireImage
Mas isso significa que ficar com o vestido que se usa na noite de Oscars é um dado adquirido? Sanchez diz que não: “Há o entendimento de que o vestido vai ser devolvido após o evento, a não ser que seja personalizado”. É comum que, no dia seguinte, representantes das marcas recolham as peças de roupa, joias e acessórios.
E se o desfile na passadeira vermelha é uma oportunidade para uma estrela se destacar pelo estilo, nos últimos anos também se tornou um momento para mostrarem a posição que tomam por temas de atualidade. Em 2018, houve um acordo entre muitas atrizes para vestirem de preto, como forma de apoio aos movimentos #MeToo e Time’s Up, em 2020 a moda ficou voltada para a sustentabilidade e para a preocupação com as alterações climáticas. Também em 2020 saltou à vista o visual de Natalie Portman, que usou uma capa que tinha bordados à mão os nomes de realizadores não nomeadas, como forma de protesto contra o que considerou ser um exemplo de desigualdade de género da Academia de Hollywood.
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Steve Granitz/WireImage
Os stylists responsáveis pelas celebridades têm ainda a missão de garantir visuais que não vão ser iguais ou sequer semelhantes ao de outras estrelas. São feitos contactos secretos entre estilistas e marcas para apresentarem esboços dos vestidos que estão a preparar para as estrelas, de modo a se garantir originalidade. No momento de escolher, pode haver um visual principal e outro de reserva, para o caso de haver alguma urgência. Em 2013, Anne Hathaway emitiu um comunicado para pedir desculpas à Valentino por ter mudado o vestido à última da hora. A atriz disse ter descoberto na noite anterior que uma outra atriz iria usar um vestido muito parecido ao seu e, por isso, optado antes por uma criação Prada.
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Jason Merritt/Getty Images
Todos os detalhes e preparativos para a passadeira vermelha culminam num desfile que é assistido em todo o mundo e que justifica o trabalho de semanas (muitas vezes meses) de uma equipa que trabalha nos bastidores para que as estrelas surjam no seu melhor. Ao mesmo tempo, as marcas promovem-se e surgem num espaço que tem uma visibilidade que muitas vezes é superior à da passerelle de uma semana da moda.