A notícia da morte de Matthew Perry, tornada pública na madrugada de sábado, causou consternação entre os fãs da série “Friends”. Na internet, especialmente na rede social X (anteriormente conhecida como Twitter) e no Instagram, surgiram inúmeros vídeos e fotografias a prestar a sua última homenagem ao eterno Chandler de “Friends”. Uma reação que prova o carinho pelo ator, pela personagem e pela série que estreou no dia 22 de setembro de 1994 nos EUA, mas que ainda hoje continua a ser um caso de sucesso.
Em Portugal, “Friends” está disponível no canal Fox Comedy, com episódios a serem emitidos diariamente, e também na plataforma de streaming HBO, onde ocupa ao dia de hoje o oitavo lugar do top 10 dos conteúdos mais vistos. Dados impressionantes para uma sitcom que teve o seu último episódio a ser transmitido a 6 de maio de 2004. Quer isto dizer que faz quase 20 anos que esta série terminou, mas ainda assim continua a ter fãs que consomem os mesmos 236 episódios.
Mas o que faz de “Friends” uma série tão particular? Em primeiro lugar, o destaque vai para as personagens e para o elenco. Courtney Cox, David Schwimmer, Jennifer Aniston, Matthew Perry, Lisa Kudrow e Matt le Blanc entregaram interpretações carismáticas a Monica, Ross, Rachel, Chandler, Phoebe e Joey. Segundo a psicóloga clínica e especialista em relacionamentos Carla Marie Manly, as pessoas identificam-se com as personagens, entendem os seus problemas pessoais e compreendem-se melhor ao ver a série. “Os meus pacientes na casa dos 30 anos falam muito de ‘Friends’”, revela Manly. “Tenho um que se identifica muito com o Chandler, então tive que investigar a personagem, pois esse paciente é muito reservado e não gosta de falar muito sobre isso. De certa forma, este paciente está a falar sobre os seus próprios problemas quando fala do Chandler.”
O fator nostalgia é importante para explicar o porquê de “Friends” continuar a ser uma série tão assistida. O público é remetido para os anos 1990 e início de 2000, uma altura da qual muitos guardam boas memórias, por estar relacionada com a juventude. É por isso uma série de conforto à qual se volta para se ter um momento de descontração. O enredo e a comédia também são relevantes para os fãs, com muitos diálogos a serem replicados ainda hoje. Aliás, os elementos mais loucos são relevantes para os fãs. Segundo Manly, as personagens são sempre acolhidas pelo grupo de amigos a que pertencem, mesmo quando têm atitudes mais loucas, e isso é reconfortante para quem vê. “Quando as pessoas sentem que podem reconhecer-se noutra pessoas, sentem que não estão sozinhas”. E dá um exemplo: “Vejamos o Joey. É aquele com quem alguns dos meus pacientes do sexo masculino se identificam porque é muito estranho e tonto. Ou a Phoebe – alguns olham para ela e veem as suas próprias excentricidades ou as da sua família. Identificam-se com isso e quando o fazem, não se sentem sozinhos. Além disso, muitas pessoas moram sozinhas e não têm muitos amigos. Assistir ‘Friends’ é uma forma de vivenciar a amizade ainda que de forma indireta”.
A escritora Kelsey Miller, autora do livro “I’ll Be There For You: The One About Friends”, diz que os fãs se identificam com os problemas das personagens e explica o porquê de os conteúdos continuarem relevantes hoje em dia. “Em última análise, a grande razão pela qual ‘Friends’ é tão universalmente popular é o facto de ser um programa sobre amizade. Todo o conceito, todo o espetáculo, é sobre a experiência de ter amigos. Todos podem identificar-se com isso, mas nem todos experimentaram a amizade de uma forma tão mágica. Também fala dos momentos das nossas vidas em que os amigos assumem a primazia e significaram tudo para nós. Essa não é uma era dos anos 90, mas uma era nas nossas vidas.”