“Respeitinho: o início da minha discografia ainda é do tempo das 78 rotações!”, dizia um Sérgio Godinho divertido na biografia musical Retrovisor, de Nuno Galopim, editada em 2006. Falava de uma história antiga. Quando tinha 10 anos, por sugestão da sua professora de piano, ofereceu à mãe um disco em que ele tocava “umas pecinhas”, gravado na Ideal Rádio, no Porto, que tinha “uma maquineta de 78 rotações numa sala com piano de cauda”. Esse disco está, oficialmente, perdido e a discografia de Sérgio Godinho começa em 1971, com o EP Romance de Um Dia Na Estrada, com quatro faixas que estariam também presentes no álbum Os Sobreviventes, lançado só em 1972. Nessa altura, já Sérgio Godinho tinha saído de Portugal há sete anos, deixando a meio um curso de Economia que não ficou para a História. Aos 20 anos, vivia sozinho em Genebra, onde também deixaria interrompido um curso, desta vez de Psicologia, na universidade onde Piaget era, ainda, professor. Daí, partiria para Paris. No fundo, o que queria era “ter mundo”, como diz à VISÃO na sua casa, a dois passos do Largo do Rato, em Lisboa. Transformar-se-ia num “freak” fascinado com os anarquistas, que sonhava trabalhar em cinema, teatro ou música.
Com Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades, de José Mário Branco, lançado em novembro de 1971, Os Sobreviventes tornou-se símbolo de uma nova, e revolucionária (em mais do que um sentido), música popular portuguesa, que, no caso desses dois discos, chegava de exílios em Paris. Ao lado de José Afonso e José Mário Branco, triunfaria nos Prémios de Música Ligeira, organizados pela Casa da Imprensa. O que não foi visto com bons olhos por todos os concorrentes… “Parece concluir-se que os emigrantes são mais facilmente considerados génios musicais”, diria o cantor Duarte Mendes.