Em “Chronos Redux”, que ocupa o espaço principal da galeria da Rua Fernando Palha, Diogo Machado (Add Fuel) refez, retrabalhou e repensou o trabalho desenvolvido nos últimos anos e que se caracteriza sobretudo pela reinvenção do azulejo tradicional português.
“O meu pensamento, ao encarar este desafio, foi fazer um pouco uma retrospetiva, sem ser uma retrospetiva ao meu trabalho. Quando 2020 nos forçou a parar, muitos de nós fizemos um bocado uma introspeção, e pensámos sobre a nossa vida, o nosso caminho, onde é que estamos, onde é que queremos ir, o que me levou a olhar um pouco para trás, para o meu trabalho já feito”, contou AddFuel à Lusa, numa visita à exposição.
O artista partilhou que, nesta altura, achou que fazia sentido “retrabalhar um pouco sobre o tempo”, até porque o seu trabalho “anda muito à volta do conceito do tempo e do repensar do azulejo”.
AddFuel salienta que o que está exposto na Underdogs “não é reaproveitamento do que já existe, mas sim um repensar e um retrabalhar” do que fez ao longo da carreira.
O artista lembra que, desde que começou a ‘reinventar’ o azulejo, já criou “378 padrões diferentes”, que tem numerados. E “Chronos Redux” começa com seis peças de pequenas dimensões, em azulejo, onde refez e retrabalhou os primeiros seis padrões que criou. “Todas as peças têm a numeração do padrão, o nome da peça e número do ano do padrão original”, revelou.
Das seis pequenas peças, passa-se para cinco “um pouco maiores, que representam o crescimento” e a altura em que Diogo Machado começou a pintar em paredes. A série de cinco trabalhos, também em azulejo, representa paredes que o artista pintou em cidades como Lisboa, Paris ou Figueira da Foz.
A dada altura da carreira, Add Fuel começou de facto a recortar azulejos, em vez de neles desenhar os recortes, criando peças com várias camadas, e isso também está numa das paredes da Underdogs, com uma série de trabalhos cujos nomes “têm que ver com falhas geológicas”.
Em “Chronos Redux” está também presente o corpo de trabalho mais recente de Diogo Machado, em tons de branco e cinzento, e no qual se destacam as esculturas em metal.
Nestas peças, Diogo faz uma “desconstrução e reconstrução do ‘stencil’ [técnica que utiliza para pintar os azulejos], em metal branco lacado”.
“É um material que estou a ter muito prazer em explorar, e que tem muito potencial, semelhante ao azulejo em termos de durabilidade, porque é metal lacado com pintura eletroestática, não enferruja, não envelhece”, contou.
Embora o branco e azul continuem a ser “a imagem de marca” do seu trabalho, Add Fuel partilha que está a “gostar de explorar a tridimensionalidade e jogar com sombras”.
A exposição inclui duas peças grandes, nas quais não é utilizado metal ou azulejo, e que representam o trabalho mural de Add Fuel. “Para galeria gosto de trabalhar o material em si, o pintado deixo para a rua. Mas fiz questão de ter aqui uma representação do meu trabalho de mural, embora numa escala mais pequena”, contou.
“Chronos Redux” termina com uma série de sete peças, que “representa um pouco o futuro”, em que o trabalho de Add Fuel “pode vir a ser de várias cores”.
Para a mostra, o artista criou também uma instalação, suspensa no teto, com iluminação, “para criar ambiente”, e que “reforça a ideia de passagem do tempo, porque mexe, roda, chega a um ponto para e roda no sentido contrário”.
Além de “Chronos Redux”, quem visitar a Underdogs a partir de sexta-feira poderá também ver “We Still Have a Dream”, no espaço cápsula da galeria, da dupla Halfstudio (Emanuel Barreira e Mariana Branco), que começaram no design gráfico e acabaram por se focar nas letras e frases, que já pintaram e expuseram em vários locais de Portugal e do estrangeiro.
A exposição na Underdogs teve como ponto de partida “tudo o que a Humanidade tem estado a passar nos últimos anos: a polarização, o ódio crescente, o aumento das ‘fake news’, uma negatividade geral que se sente, e que agora foi agravada com esta pandemia”.
Emanuel e Mariana criaram no espaço cápsula da Underdogs “um escape”. “Para as pessoas quando estão aqui terem acesso a estas mensagens positivas e ser um escape a essa realidade. Porque também acreditamos que só conseguimos criar uma sociedade melhor e dar uma segunda oportunidade à Humanidade se tivermos esperança, amor e reforçamos as ligações uns com os outros”, explicou Emanuel à Lusa.
Os objetos utilizados na mostra foram todos “recuperados, para serem pintados com frases e palavras”, de serras circulares a serrotes, passando por quadros antigos e caixas de luz.
“Esperança de dar uma segunda oportunidade à humanidade e ao mesmo tempo dar também uma segunda oportunidade a estas peças, que já não tinham uso. Fizemos aqui este paralelismo”, referiu o artista.
“We Still Have a Dream” começou a ser preparada em outubro do ano passado, em plena pandemia da covid-19, e este fator acabou por ter “bastante influência”. “Foi quase um exercício de meditação nossa, de fazer coisas positivas um bocado para contrariar tudo aquilo que se estava a passar”, referiu.
Além da frase que dá nome à exposição, que em português significa “Ainda temos um sonho”, nas paredes da Underdogs estão objetos com palavras como “Trust” (Confiança), “Joy” (Alegria), “Luck” (Sorte) “Hope” (Esperança) ou frases como “I like you a lot” (Gosto muito de ti) ou “Enjoy right now” (Aproveita agora).
“Chronos Redux” e “We still have a dream”, de entrada gratuita, podem ser visitadas até 22 de maio, de segunda a sexta-feira, das 14:00 às 19:00.
JRS // MAG