Os admiradores de Star Wars sabem ao que vão: uma ópera interplanetária atravessada por mitos ancestrais, uma história de pais e filhos desavindos, uma criação total sobre uma galáxia muito, muito distante, um bestiário de criaturas impressionantes, um festim de efeitos tecnológicos. Mas a saga é mais do que a soma destes ingredientes, assumindo-se como uma experiência coletiva e emocional que atravessa gerações – uma narrativa com temas universais, as grandes questões humanas transfiguradas sob a forma de ficção científica, com lutas de sabres luminosos e naves no espaço a saltarem para a velocidade da luz como quem apanha um elevador.
E Star Wars: Os Últimos Jedi, que agora chega às salas de cinema, revela-se como um épico espetacular, enérgico e dramático, que, desta vez, não se deixa ofuscar por efeitos especiais gerados por computador. O realizador Rian Johson, também argumentista, invoca, aqui, tanto a herança dos duelos western como o realismo mágico, os rituais samurais e os mitos da antiguidade, a escravatura e as ditaduras europeias do século XX, o tráfico de armas ou os caprichos do jet set. E, no entanto, o puro entretenimento não ficou beliscado. A velocidade da luz é engrenada na narrataiva, o brilho trazido por um sabre de luz familiar não desaponta.
Apesar de este ser o filme mais longo da saga, com 152 minutos, não haverá desconforto sentido nas cadeiras de cinema – sobretudo para os verdadeiros admiradores de Star Wars que encontrarão neste episódio VIII imensos fios que finalmente se ligam, simetrias e ecos e fechamento de círculos narrativos, entre o passado da saga e o presente. Tudo se explica, tudo se amplia. E o humor pontua muitas cenas – algumas vezes, quase, quase, a ameaçar quebrar o pacto da crença estabelecido com o espetador…
Star Wars: Os Últimos Jedi arranca no fim do episódio anterior: a Primeira Ordem é o regime autoritário vigente, dominado pelo Líder Supremo Snoke, os rebeldes da general Leia Organa (Carrie Fisher, que faleceu no fim destas filmagens) estão em fuga, o stormtrooper desertor Finn (John Boyega) está em coma, a inexperiente órfã Rey (Daisy Ridley) derrotou o vilão Kylo Ren (Adam Driver), o neto de Darth Vader. E Rey partiu, e encontrou o mítico e desaparecido Jedi, Luke Skywalker (Mark Hamill), no fim do mundo. E agora?
A batalha inicial dá o tom ao argumento: as trevas estão quase a engolir a luz, são necessárias medidas desesperadas. Entre o bem e o mal, a luta continua. E os rostos da batalha são jovens herdeiros. “Sou um monstro”, assume Kylo Ren, o vilão ao serviço da Primeira Ordem, que repudiou a herança dos Jedi e a sua identidade de Ben Solo, filho de Leia e Han Solo. “Quero descobrir qual é o meu lugar”, declara Rey, confusa com o despertar da Força, essa energia vital que atravessa o mundo, coisa mística. E a Resistência? Essa quer ser “a centelha que incendiará a chama na galáxia” em prol da liberdade e da República. O espetador só tem que embarcar na aventura, e deixar-se levar na trepidação como se viajasse na Millenial Falcon…
Star Wars: Os Últimos Jedi tem momentos de intenso impacto visual – veja-se a aparição do Líder Supremo Snoke, uma brilhante composição de Andy Serkis (o ator também escondido no Golum da trilogia O Senhor dos Anéis) com a ajuda da tecnologia de efeitos especiais criados por computador. Ou as cenas filmadas em Ahc-To, uma ilha irlandesa protegida pela Unesco, onde está refugiado Luke Skywalker. Mas, sobretudo, tem o imenso mérito de reacender a chama de uma história antiga – e é assim que se perpetuam os mitos.