A propósito do disco que Bob Dylan editou em 2012, Tempest, escrevíamos aqui na VISÃO: “Quem é que se lembraria, hoje, de escrever uma canção de 14 minutos sobre o naufrágio do Titanic, à maneira de um velho e ritmado romance de cordel?”. Resposta: o futuro Nobel da literatura Bob Dylan, aliás, Robert Allen Zimmerman, nascido em Duluth, Minnesota, a 24 de maio de 1941.
Os prémios não são uma novidade para ele. Incluíndo com a marca do país que agora lhe deu o mais prestigiado prémio literário do mundo. No ano 2000, a Real Academia Sueca de Música distinguiu-o pela “influência indiscutível no desenvolvimento da música popular, no século XX, como cantor e escritor de canções”. “Esse pode muito bem ser um degrau a caminho do Nobel”, escrevíamos nós, em 2001, num texto que assinalava a chegada de um dos nomes mais icónicos dos anos 60 aos… 60 anos. Afinal, deste 1997 que um grupo sediado na Noruega, mas com fortes ligações ao meio académio norte-americano, trabalhava para promover o nome de Dylan ao olimpo do Nobel da literatura. A vítória, precisamente em 1997, de Dario Fo deu-lhes força. Afinal, nas palavras do professor Gordon Bali, era “um distinto criador, cujas peças, tal como as letras e canções de Dylan, dependem da performance para a sua realização completa”.
Quando o presidente Bill Clinton lhe entregou, em 1997, o Prémio Kennedy (Kennedy Center Honors Lifetime Achievement Award) disse dele: “Teve provavelmente mais impacto nas pessoas da minha geração do que qualquer outro artista criativo”. Um Grammy por toda a carreira foi-lhe dado, precocemente (ainda faltavam tantos discos…), em 1991, por Jack Nicholson. No currículo de prémios, o cada vez mais discreto e silencioso Bob Dylan tem também um Oscar (o de melhor canção original por Things Have Changed, do filme Wonder Boys, de Curtis Hanson).
Se associamos, ainda hoje, o nome de Bob Dylan sobretudo à folk contestatária e revolucionária dos anos 60, é justo dizer que foram muitas as máscaras que lhe assentaram ao longo das décadas numa carreira cheia de altos e baixos. Ele é o trovador vagabundo de caracóis desgrenhados e voz roufenha mas também o judeu espiritual e obediente às tradições, o músico cansado e entediado dos maus concertos e o poeta e executante exímio de conconertos inesquecívies, o romântico tímido, o discreto pai de família, o mal humorado e antipático entrevistado… Muitas vezes, Bob Dylan é, tão só, um mistério.
Aparentemente, mais do que um prémio com conotações políticas (nos útlimos anos a aprticipação pública de Bob Dylan tem sido escassa) este Nobel da literatura é um statement da Academia Sueca: toda a palavra escrita num contexto artístico é literatura e digna das mais altas distinções.
Em termos puramente literários a sua carreira começou bem sintonizada com a beat generation com Tarantula (publicado em 1971 mas escrito nos anos 60), num registo de prosa poética experimental. E a sua autobiografia em curso (Chronicles, com edição portuguesa do primeiro volume na Ulisseia) é o mais próximo que nos podemos aproximar do homem por detrás da máscara.