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Peter Doig, pintor escocês que está representado nas maiores galerias de arte do mundo, jura a pés juntos que não é o autor de um quadro que mostra uma paisagem desértica com uns troncos de árvores caídos e uma dúzia de catos. Quando lhe mostraram a fotografia do quadro, Doig respondeu assim numa entrevista: “Boa pintura. Mas não é minha.” Aquele que é considerado um dos maiores pintores da atualidade até admite que terá tomado LSD uma série de vezes durante a adolescência no Canadá nos anos 70, mas ainda diz saber reconhecer se uma pintura é sua ou não. Quem não gostou de ouvir isto foi o dono do quadro. Agora, Doig vai ter de provar em tribunal que não foi ele quem o pintou.
O proprietário diz ter conhecido Doig quando trabalhava num centro de correção onde o famoso pintor teria pintado a obra enquanto jovem recluso. E garante que, ou Doig está confuso, ou mente com o objetivo de desencadear um plano para vender o seu trabalho por milhões de dólares.
Mas Doig, hoje com 57 anos, diz ter provas convincentes de que nunca esteve sequer perto daquele centro, o Thunder Bay Correctional Center, localizado a cerca de 15 horas de Toronto. “Este caso é uma farsa, e eu estou a ser forçado a fazer os possíveis e impossíveis para provar onde andava há 40 anos”, disse o pintor.
O que Peter Doig não esperava, e está a espantar o mundo da arte, é que um juiz federal de Chicago decidisse levar o caso a julgamento nos Estados Unidos. Especialistas dizem não se lembrar de algo assim, pelo menos a envolver um pintor com o nome e o currículo de Doig. “Ter de desmentir que criaste um trabalho parece estar errado e não é justo”, diz Amy M.Adler, professor da Faculdade de Direito de Nova Iorque.
Entretanto, uma pintura de Doig foi vendida por mais de 25 milhões de dólares. Outros trabalhos têm sido vendidos em leilões por preços que chegam aos dez milhões. E o dono do quadro e o negociante de arte que o ajudou a vender o trabalho estão a pedir ao pintor 5 milhões de dólares pelos danos, ao mesmo tempo que procuram uma decisão do tribunal sobre a sua autenticidade.
Normalmente as ações judiciais que discutem a autenticidade de uma obra são interpostas depois de os artistas morrerem e normalmente contra especialistas que duvidavam da veracidade da obra e não contra o artista.
Mas Doig não é o primeiro artista a negar ter criado uma obra. Picasso, por exemplo, negou ter pintado um quadro conhecido como “La Douleur” ou “ThePaint”, mas o Metropolitan Museum de Nova Iorque investigou e diz que Picasso é claramente o autor daquela obra.
Os advogados de Doig dizem já ter identificado o verdadeiro autor do quadro que mostra uma paisagem desértica. Dizem que o verdadeiro artista é um homem chamado Peter Edward Doige, que morreu em 2012. A irmã diz que pintava e passou por Thunder Bay. Diz ainda que a paisagem lhe lembra uma área do Arizona para onde a mãe se mudou depois do divórcio e onde o irmão terá passado algum tempo.
Robert Fletcher, o ex-guarda prisional, hoje com 62 anos, que levou o caso a tribunal, não está convencido. Garante que comprou o quadro a um homem chamado Peter Doige (com um e) que conheceu em Thunder Bay, em 1975. E acredita que Doige é o artista que hoje assina como Doig. A decisão está nas mãos do tribunal.