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Faz agora vinte anos que os Moonspell se apresentaram ao mundo com o álbum Wolfheart, primeiro capítulo de uma longa carreira que os haveria de tornar numa das bandas portuguesas mais bem-sucedidas internacionalmente. Uma data redonda comemorada com um novo disco e com o lançamento de um documentário, o primeiro alguma vez realizado sobre o grupo, que estreou a semana passada no Cinema São Jorge, em Lisboa, onde se juntaram fãs, amigos e representantes da imprensa internacional, numa demonstração do atual estatuto do grupo no panorama do heavy metal mundial. Ao longo de quase uma hora e meia, o filme Road to Extinction, do realizador e “amigo da banda” Victor Castro, acompanha o dia a dia do grupo durante a conceção e a gravação do novo disco, Extinct, ao mesmo tempo que faz uma ligação (“mais académica”, nas palavras do vocalista Fernando Ribeiro) ao conceito de extinção presente no disco, com depoimentos de Francisco Petrucci-Fonseca, do Grupo Lobo (associação de defesa do lobo ibérico), do paleontólogo Mário Cachão, da escritora britânica Melanie Challenger (autora do livro On Extinction) e do finlandês Ville Friman, guitarrista da banda de death metal Insomnium e investigador em ecologia evolutiva no Imperial College, em Londres.
“Este documentário era algo que faltava na nossa carreira. A ideia inicial era gravar um pequeno vídeo caseiro do nosso dia a dia…”, explica Fernando Ribeiro. De uma forma muito crua, quase sem edição, o filme tem início nos Estúdios Inferno, a base dos Moonspell, num antigo matadouro em Olival Basto. Aí se mostram, a preto e branco, os primeiros passos na composição do novo disco, com os membros a discutirem caminhos e estéticas musicais em torno de um simples acorde.
“Mostramos aquelas situações que passam despercebidas aos fãs, quando ouvem um disco já feito. Este documentário foi feito a pensar neles, que têm aqui uma oportunidade de entrar na nossa intimidade”, conta o músico. Nesse aspeto, um dos momentos altos do filme é o quotidiano do grupo em estúdio, na Suécia, onde, ao longo de mais de um mês, decorreu a gravação álbum. Entre as intensas sessões de gravação com o produtor sueco Jens Bogren, podemos ver os membros dos Moonspell a cozinhar, a ir às compras ou a falar com a família via Skype, em momentos mais íntimos onde, acima de tudo, salta à vista a enorme cumplicidade entre todos. “Talvez seja esse o segredo da nossa longevidade enquanto banda”, reconhece Fernando, que a dada altura aparece no ecrã a oferecer uma garrafa de rum da Venezuela ao baixista de origem venezuelana Aires, como presente pelo bom desempenho nas gravações, ou a organizar um jantar de aniversário, algures na Suécia, ao guitarrista e teclista Pedro Paixão. “A nossa relação não se limita à música, os laços que nos unem são de verdadeira amizade.”
Depois do último álbum, Alpha Noir/Omega White, de 2012, ter funcionado como “uma espécie de ode à morte”, o novo Extinct tem como temática principal a extinção. Mas desengane-se quem espera um álbum negro e apocalíptico. Segundo Fernando Ribeiro este é “o mais contemplativo e pessoal” disco dos Moonspell. “A extinção tem também a ver com adaptação e é por esse lado, mais poético, que preferimos abordar o tema.” O que leva para um campo mais pessoal: “Aquilo a que damos verdadeira importância nas nossas vidas vai mudando com o tempo. Eu próprio senti isso recentemente, quando fui pai. O mesmo se passa com a natureza, vai-se adaptando às mudanças.” A extinção pode fazer parte desse processo, sim, mas os mais celebrados metálicos portugueses estão “muito mais focados em salvar do que em destruir.”