Susana Nobre trabalhou durante cinco anos no Programa Novas Oportunidade e fez um filme. A estrutura é simples e os objetivos claros. Não se procura fazer uma avaliação política do programa, apenas expor histórias e vidas, deixando margem para o espectador tirar as suas ilações. Em grande parte, este documentário cru mas sensível vive das entrevistas feitas aos beneficiários do programa. Em primeiro lugar, as entrevistas de triagem, onde estes expõem as suas experiências profissionais e os caminhos que os levaram a esta tentativa de requalificação (invariavelmente encontram-se desempregados).
Fruto da opção estética quase minimalista da realizadora, calha-nos o papel de observador, sem grandes condicionamentos da ação, segundo a ideia da busca da verdade, do momento em bruto. Todavia, é inevitável uma certa comoção, entre o drama e a esperança, contra a resignação ao confrontar-nos com estas personagens.
Os protagonistas deste filme desvendam a sua mais profunda humanidade, em muitos casos materializada na imensa coragem de voltar a aprender em idade avançada. Nas suas vozes, nos seus testemunhos, fala um país que falhou (em muitos casos esse falhanço ainda é uma sequela do Estado Novo), mas também um país que se tenta recompor, dando asas a esta ideia tão humanista de que todas as pessoas têm direito a uma nova oportunidade (que para muitos é, na verdade, a primeira). Pelo menos no plano teórico, esta oportunidade, concretizada na formação e educação de adultos, é real e dirigida: procura requalificar as pessoas, dando-lhes valias em áreas diversas, permitindo-lhes uma requalificação profissional, tendo em vista o emprego.
A Susana Nobre não lhe interessa fazer qualquer leitura política, nem sequer cercar o tema, de forma a percebermos o Novas Oportunidades em toda a sua dinâmica: não há, por exemplo, uma análise a jusante do custo-benefício. Tão pouco há a esgrima de argumentos entre governo e oposição. Nem sequer o discurso político do executivo de José Sócrates que o criou e do executivo de Passos Coelho que o desmantelou.
É essencialmente uma reflexão sobre o emprego. Ficam as imagens, a reportagem sobre trabalhos perdidos, e, a esta distância, também o saudosismo de um país que se perdeu no passado recente. Um tempo em que era legítimo ter expectativas, em que o país procurava dar resposta à esperança das pessoas, também numa perspetiva de aligeiramento, ainda que suave e insuficiente, das assimetrias sociais. Agora quem quer novas oportunidades tem que procurá-las em pátria alheia. Vida Ativa, de Susana Nobre, 92 min