Sempre apostando em atingir o glamour de Hollywood, a Academia Europeia de Cinema juntou nesta cerimónia muitas das riquezas culturais europeias: o charme, a elegância dos protagonistas e essencialmente a diversidade da cinematografia da Europa, muito bem representada nos filmes nomeados. O cancelamento de voos e o encerramento de alguns dos principais aeroportos internacionais provocado pela neve (Paris e Londres) e a greve dos controladores de tráfico espanhóis causaram novamente um certo absentismo, tanto ao nível dos convidados, como da imprensa internacional. Mas nem por isso, estragaram a festa, nem foram suficientes fortes para desmotivar o empenhamento dos estónios em proporcionar aos seus ilustres convidados uma extraordinária hospitalidade e uma vista deslumbrante da cidade, a partir do seu mais alto edifício (Swissotel). Aspecto, aliás reconhecido por Wim Wenders, Presidente da Academia Europeia de Cinema no seu discursso de abertura. Tallin, é efectivamente uma cidade muito bela (combina três aspectos arquitectónicos marcantes do soviético, medieval e moderno), mas muito fria nesta altura do ano, com as temperaturas a rondarem os -18º. As festas e o ambiente em volta dos EFA e do POFF-Black Nights Film Festival a decorrer, foram mais do que suficientes para aquecer e animar! Quanto à cerimónia dos EFA destacam-se relativamente aos anos anteriores, dois aspectos: a forma como os estónios tiraram partido em termos de espectáculo, da diferença de humor, ao nível do discurso e da expressão, dos dois apresentadores: a actriz e comediante alemã (a mesma do ano passado) Anke Engelke, expansiva e extravagante; o jovem actor local Märt Avandi, contido e sarcástico, num retrato perfeito do carácter estoniano; por outro, a utilização sistemática e fascinante do Skype, que vai tornando o mundo tão pequeno, dando-nos a possibilidade imensa e simples de comunicar e estar lá, sem estar. Um dia talvez alguém se lembre, na Academia Europeia de Cinema, de realizar uma cerimónia dos EFA via Skype, em simultâneo em várias cidades da Europa.
O ANO DE POLANSKY
Depois da tempestade vem sempre a bonança e acabou por ser um bom ano para Roman Polansky. Depois de ter estado em prisão domiciliária na Suiça, o realizador de origem polaca ganhou um Urso de Prata em Berlim, teve uma vitória no seu processo judicial, regressou à sua casa a Paris e aguarda-se a estreia da sua adaptação cinematográfica da peça ‘God of Carnage’. Agora ‘O Escritor Fantasma’, um filme realizado a partir do brilhante romance politico de Robert Harris, ganhou seis EFA no Nokia Concert Hall de Tallin: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor (Ewan McGregor), Melhor Argumento (que partilhou com o escritor) Melhor Compositor (Alexandre Desplast) e por último Melhor Direcção de Arte (Albrecht Konrad). Polansky falou várias vezes para o auditório e agradeceu os prémios via Skype, a partir da sua casa, destacando o forte ‘espírito europeu’, desta sua produção: ‘Este filme é um verdadeiro projecto internacional, uma combinação de vários colaboradores, polacos, alemães, franceses e britânicos. Partilho este prémios com a minha maravilhosa equipa’, declarou o realizador. Na verdade foi um excelente ano para a indústria europeia de cinema tanto a nível dos espectadores, novos talentos, valor, diversidade, género e nacionalidade das obras, bem como ao nível do crescimento das co-produções internacionais e intercontinentais (ver toda a lista de nomeações em www.europeanfilmacademy.org).
PREMIAR A EXCELÊNCIA
Assim o Prémio Melhor Documentário Europeu foi para ‘Nostalgia de la Luz’, uma coprodução França/ Alemanha/ Chile, do chileno Patrício Guzman, assim como o francês Sylvain Chomet, ganhou a Melhor Animação Europeia com ‘O Mágico’, que estreou agora em Portugal. O Prémio do Público para o excêntrico ‘Mr. Noboby’, do belga Jaco Van Dormael, não deixou de constituir um surpresa, num galardão que tem como base a escolha dos utilizadores, de alguns media especializados europeus da área do cinema. Quase óbvio foi o Prémio Fipresci/Revelação Europeia, para o notável e claustrofóbico ‘Lebanon’, uma co-produção entre Israel/França/Alemanha, de Samuel Maoz, já estreado entre nós, filme que resgatou ainda o Prémio de Melhor Fotografia/Carl Di Palma, atribuído a Giora Bejach. Nas categorias técnicas de salientar o Prémio de Melhor Montagem, atribuído a Marion Monnier, pelo híbrido ‘Carlos’ do francês Olivier Assayas. A actriz francesa Sylvie Testud que não esteve presente na cerimónia recebeu o Prémio de Melhor Actriz Europeia pela sua pungente interpretação no drama ‘Lourdes’, da realizadora austríaca Jessica Hausner.
AO RITMO ESTÓNIO
A industria premiou também os seus melhores profissionais do ano, com destaque para a turca Zeynep Ozbatur Atakan, (responsável pela produção dos três últimos filmes de Nuri Bilge Ceylan) com o Prémio Eurimages. Subiram ao palco alternadamente duas grandes figuras do Cinema Europeu com dimensão mundial: o veterano actor Bruno Ganz (‘A Queda’) e o compositor Gabriel Yared (‘O Paciente Inglês’), para receberem os respectivos Prémios de Carreira e a merecida homenagem da Academia. A gala foi bem conduzida pelos dois apresentadores embora por vezes um pouco ao ‘ritmo estónio’, isto é lento mas eficaz em termos gerais. E vale a pena conhecer-lhes o carácter algo que foi pela primeira vez porporcionado aos convidados num programa livre organizado, onde houve oportunidade de partilhar algumas horas e um almoço com famílias estónias. No lote de apresentadores dos prémios estiveram ainda Jean-Marc Barr, Juliette Binoche e a mais internacional das actrizes portuguesas: Maria de Medeiros. Além das naturais piadas e contrastes de humor da dupla de ´hospedeiros’, a cerimónia contou ainda com a belíssima participação das vozes e das canções (de arrepiar) do Coro Feminino da Televisão Estónia, e video clips com as reacções e ‘olhar crítico’ de alguns espectadores locais, em relação aos sete filmes nomeados. Para o ano a cerimónia dos EFA regressa a Berlim, para depois comemorar 25º Aniversário dos EFA em 2012, na cidade de Malta.
EFA 2010
MELHOR FILME EUROPEU
‘O Escritor Fantasma’, de Roman Polanski
REALIZADOR EUROPEU
Roman Polanski – ‘O Escritor Fantasma’
ACTRIZ EUROPEIA
Sylvie Testud – Lourdes
ACTOR EUROPEU
Ewan McGregor – ‘O Escritor Fantasma’
ARGUMENTO EUROPEU
Robert Harris e Roman Polanski – ‘O Escritor Fantasma’
FOTOGRAFIA EUROPEIA/ Prémio Carlo Di Palma
Giora Bejach – ‘Lebanon’
MONTAGEM EUROPEIA
Luc Barnier e Marion Monnier – ‘Carlos’
DIRECÇÂO DE ARTE EUROPEIA
Albrecht Konrad – ‘O Escritor Fantasma’
BANDA SONORA EUROPEIA
Alexandre Desplat – ‘O Escritor Fantasma’
REVELAÇÃO EUROPEIA – Prémio FIPRESCI
‘Lebanon’, de Samuel Maoz
DOCUMENTÁRIO EUROPEU – Prémio ARTE 2010
‘Nostalgia de la Luz’ – Patricio Guzmán
ANIMAÇÃO EUROPEIA
‘O Mágico’, de Sylvain Chomet
CURTA-METRAGEM EUROPEIA
‘Hanoi-Warsaw’ – Katarzyna Klimkiewicz
PRÉMIO DE CO-PRODUÇÃO EUROPEIA/ Prémio EURIMAGES 2010
Zeynep Özbatur Atakan, produtora (Turquia)
PRÉMIO DE CARREIRA
Bruno Ganz, actor
PRÉMIO DE MÉRITO EUROPEU
Gabriel Yared, compositor
PRÉMIO DO PÚBLICO PARA MELHOR FILME EUROPEU
Mr. Nobody [tráiler, film focus] – Jaco van Dormael