Na vida de Diana houve sempre um caminho. Vários caminhos. O primeiro, aquele que a levava a passar a fronteira todos os dias para frequentar a escola do lado de lá. A viver em Valença do Minho, os pais (ele português e a mãe galega com ascendência brasileira) optaram por lhe proporcionar a escolaridade espanhola, desde o básico. Também trilhou na Universidade de Vigo, a licenciatura de Comunicação Audiovisual. Depois os caminhos bifurcaram-se, foi realizadora da TVG (televisão da Galiza), mas cansou-se de fazer aquele estreito e descartável carreiro “de entrar em casa das pessoas roubar-lhe um bocado de vida e vir-se embora”. Encarreirou noutra vereda: é directora de produção de som do Estúdio Dolby, em Santiago de Compostela. Continua a vida na estrada, a fazer quilómetros, de um lado para o outro, mas o caminho, o verdadeiro caminho, aquele dos tijolos amarelos, encontrou-o em 2008, durante um workshop de documentário, na Galiza, em que se pedia aos participantes que realizassem uma curta interpretando a palavra “caminho”. O tema não podia adequar-se mais às passadas de Diana. À curta chamou-lhe Trapicheiras, o nome que se dava às mulheres na sua terra que contrabandeavam mercadorias, pelos trilhos clandestinos, a coberto da noite, longe da estradas principais, com os carabineros escondidos atrás dos penhascos, a arriscar coimas, multas, a prisão e a humilhação. Dois anos depois desenvolveu o tema no documentário Mulleres da Raia (que arrecadou três prémios nacionais e internacionais). Curiosamente, Cláudia nasceu em 1986, justamente o ano da entrada de Portugal e Espanha na CEE, o ano da morte anunciada do contrabando. Neta e filha de guardas fiscais, sempre crescera a escutar na vizinhança “as histórias que escondem uma fronteira”. “Fazer este documentário foi um processo de auto-reconhecimento da comunidade galaico-portuguesa. É uma tema de alta tensão”, explica Diana. “Pertence ao passado mas existe um medo de uma época de repressão que ainda se carrega no corpo”. Foi preciso “escavar”, ganhar a confiança destas mulheres, muitas delas, na altura, com os homens emigrados ou na guerra. “Elas não tiravam outro benefício que não o da sobrevivência do dia a dia. Não enriqueciam, nem tinham tempo para pensar no risco. Onde há fronteira existe negócio e há coisas que a lei não entende”. Sem subsídios, fez o documentário “com verdade”, sob a batuta dos seus mestres: o brasileiro Eduardo Coutinho, “pela forma de entender o depoimento, trazendo a emoção humana, sem sentimentalismos nem truques” e o lituano Adrius Stunys, pela “noção do peso do tempo”.
ENCONTRO IMEDIÁTICO com Diana Gonçalves
O primeiro documentário de uma realizadora que procura fazer filmes "com verdade"
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