Sentiu-se uma espécie de musa ou de inspiração, para que Pedro Costa pudesse jogar com as sombras, a luz e a música? Foi mais actriz, cantora ou performer?
JEANNE BALIBAR: Fui um pouco tudo isso. Entre nós existe uma de amizade e uma proximidade artística. Conhecemo-nos num festival de cinema, enquanto membros de um júri, e ele sentiu vontade de seguir o meu trabalho.
Parece-lhe que este filme é um musical?
O realizador fez o seu próprio CD com a nossa música, mas também construiu os ambientes e a história que quis contar. A história algo secreta desta mulher e dos seus músicos e daquele ambiente de ensaio
Ensaiam sempre às escuras?
Não. Aquela é a luz natural, a câmara de Costa e a falta de iluminação de cinema produz essa ilusão de óptica.
Que tipo de indicações lhe dava o realizador?
Nenhuma. Ele é que mudava de posição em função do que queria fazer. O Pedro é demasiado único, não tem nada de comparável com os outros realizadores
Na sua opinião este é um filme sobre si, sobre a música, sobre a ideia de se ser cantora, sobre o processo em si?
Todas as quatro ao mesmo tempo. É um filme sobre a música e sobre o trabalho que está por detrás. Nesse sentido, é um filme sobre um corpo e uma voz que é a minha. E a relação entre eles. É um filme sobre alguém que tenta qualquer coisa. O Pedro constrói esta personagem que tenta, que ensaia… Ele privilegiou os momentos de falhanço. Suponho porque o importante para ele seja o processo de tentar, mais do que o chegar lá.