É verdade que a vida imita a ficção, mas nunca ninguém a processou por plágio. Woody Allen dizia que a “vida não imita a arte. A vida imita os maus programas de ficção”. Enfim, aqui vai a arte ao contrário, quando resolve imitar a vida e as personagens reais.
Agora que está em cartaz Invictus, de Clint Eastwood, que fala da estratégia política de reunificação de um país, pelo recém-empossado presidente Mandela, relembramos algumas personagens políticas (ou vagamente políticas) cujo ADN de celulóide já se confunde com os cromossomas da história.
Às vezes são as personagens que tornam os actores famosos, outras são os actores que celebrizam a personagem.
Daqui a pouco, mesmo aqui ao lado, pode votar no inquérito sobre qual a melhor personagem política encarnada por alguns actores famosos
CLEOPATRA, de Joseph L. Mankiewicz – ELIZABETH TAYLOR – O filme com o mesmo nome, realizado em 1963, mostrava ascensão e queda da rainha do Nilo com mais eye-liner de sempre. Os cenários eram sumptuosos, Elizabeth Taylor trocava 65 vezes de roupa (um recorde), os estúdios quase foram à falência e o filme não ganhou Óscares nas categorias principais. De qualquer maneira, à rainha egípcia ficou para sempre gravado o rosto de Taylor. Dela e da outra desenhada por Uderzo, a tal que Obelix dizia que tinha um belo nariz.
W (GEORGE W. BUSH), de Oliver Stone – JOSH BROLIN – Brilhantemente interpretado por este actor, aquele que já é considerado o pior presidente americano de sempre está mais perto do retrato pela maneira de falar e pelas rugas na testa do que pelas parecenças físicas. O filme é quase uma comédia, a realidade é que é trágico
A RAINHA (ELIZABETH II), de Stephen Frears – HELEN MIRREN – A actriz brilhou com uma impressionante economia de recursos. Aliás, neste filme de um misto de solenidade, elegância e humor very british, a rainha não é a única celebridade contemporânea. Para além da família real, também aparece Tony Blair aparece na pele do actor Michael Sheen que voltará a ser citado neste post
MILK ( Harvey Milk), de Gus Von Saint -SEAN PENN – Não foi propriamente um Malcon X, mas tornou-se um mártir gay, colocado num pedestal pelas comunidades GLT do mundo inteiro. Chegou a ser considerado pela TIME uma das personalidades mais influentes, primeiro político eleito homossexual assumido. O filme é desconsoladoramente convencional, mas Sean Penn é genial na pela desta outra que se intitulava “a rainha número um”. E no exercício das suas funções de corta-fitas, uma vez disse: “Sou o único político que a seguir a cortar uma fita tem vontade de a colocar na cabeça”. Uau!
FROST/NIXON (de Ron Howard) – MICHAEL SHEEN e FRANK LANGELLA. Uma modalidade curiosa de filme/entrevista em que os dois actors estão num ringue cheio de holofotes e câmaras durante uma entrevista real que durou várias dias. Langella foi nomeado aos Óscares em 2008. Depois de entrevistador e de Tony Blair Sheen vai aparecer no esperado Alice de Tim Burton, a fazer de coelho branco.
CHE (de Steven Soderbergh) – BENICIO DEL TORO – O mais enfadonho revolucionário da história do cinema no também mais sensaborão dos filmes.
A VIDA PRIVADA de SALAZAR (de Jorge Queiroga) – DIOGO MORGADO – Ah, mas enquanto o companero Che andava lá pelas Sierras Maiestras a infernizar a vida ao ditador Baptista, o nosso ditadorzinho português tinha uma vida amorosa bem catita, uma amante em cada esquina, em cada rosto sensualidade, e ainda a governanta Maria para lhe fazer a cama e pastelinhos de bacalhau….
GANDHI (de Richar Attenborough) – BEN KINSLEY – O actor britânico foi tão marcante na sua actuação que quase já associamos a sua fisionomia à do verdadeiro líder indiano, O filme de 1982, foi nomeado para 11 óscares e ganhou oito
O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA (de Kevin Macdonald) – FOREST WHITAKER – O filme não tinha grande interesse mas Whitaker é sempre memorável. Também neste papel do psicótico e delirante ditador do Uganda.
MARIA ANTONIETA (de Sophia Coppola) – KIRSTEN DUNST – Por mais que os livros de história a mostrem séria e guilhotinada, nunca mais a imagem de Dunst, seus bolos, seus vestidos, seus ténis All Stars nunca mais se descolarão da jovem vienense, rainha no local errado, na data errada.
ÁGORA (de Alejandro Amenábar) HIPÁCIA – RACHEL WEISZ – Pode não ter sido uma figura política, mas os historiadores sustentam que terá sido a influência política que a filósofa e matemática de Alexandria tinha sobre os dignatários romanos que lhe ditaram o martirizado fim.
E muitos mais haveria. A caixa de sugestões está aberta até à colocação do inquérito na coluna da direita. Sugiram, mas depressa…