Há uma frase que João Tomás costuma usar para explicar o que ele e a mulher, Isabel Costa, andam a fazer pela serra da Estrela, já vai para mais de 20 anos. Por simples que seja a frase, ou talvez por isso mesmo, revela muito mais do que à primeira vista parece: “Não fazemos nada de novo.” O não fazer nada de novo, aqui, significa não construir, nem edifícios nem tão-pouco acessos rápidos aos locais mais recônditos da serra. A Natureza é nobre, e recuperar o que já existe e merece ser preservado é a missão – de que são exemplo os dois pequenos hotéis que possuem (Casa das Penhas Douradas e Casa de São Lourenço), e a Burel Factory, que reabriram sobre os escombros da falida Lanifícios Império.
Tanto no caso dos hotéis como no caso da fábrica de burel, João e Isabel levantaram das cinzas o que estava à beira de ruir e, no fundo, quase a desaparecer na encruzilhada entre o passado e o futuro. Recuperaram património edificado (a Casa de São Lourenço era uma antiga pousada do Secretariado Nacional de Informação, com desenho do arquiteto modernista Rogério de Azevedo e interiores de Maria Keil), matérias-primas desprezadas (como o burel), mão de obra local e já perto dos 50 anos, teares centenários de difícil manutenção, artes e ofícios a caminho de serem esquecidos. “O que fazemos é pegar no que temos, olhar para a história e tentar projetá-la no futuro”, explica João Tomás à VISÃO, que largou um escritório de advogados, em Lisboa, para se dedicar em exclusivo à serra da Estrela.