Vamos entrar numa cápsula do tempo e viajar até 1993. Mais precisamente, ao final de março, quando nasceu a revista VISÃO, a newsmagazine lançada pela equipa d’ O Jornal que prometia “uma ampla cobertura dos mais importantes e significativos acontecimentos nacionais e internacionais, em todos os domínios de interesse”.
No primeiro número da revista falava-se da agonia de Angola, dos fugitivos do Huambo e da rota secreta dos diamantes, tema que deu capa, mas também da Rússia e da “grande jogada” de Boris Ieltsin, da “história de milhões” dos hipermercados, das novas discotecas da zona ribeirinha de Lisboa que chamavam um “mar de gente”, da depressão como problema de saúde mental.
Na política, faziam-se contas às peças do jogo do primeiro-ministro Cavaco Silva e dava-se conta dos seus favoritos no governo (Marques Mendes, Braga de Macedo, Dias Loureiro e Fernando Nogueira), denunciavam-se os relatórios financeiros sobre o Centro Cultural de Belém, atiravam-se apostas a quem seria o candidato favorito do PS a Belém a seguir a Mário Soares – e acertava-se no nome de Jorge Sampaio.
O setor da televisão, em ebulição com o nascimento das estações privadas, merecia destaque num artigo sobre as corridas de fundo atrás do pequeno ecrã. José Eduardo Moniz ameaçava bater com a porta da RTP, Rangel era rei e senhor na SIC, Margarida Marante era a jornalista mais credível, Manuela Moura Guedes a mais popular. Mas Clara de Sousa já aparecia como revelação de sucesso da TVI.
A reportagem de fundo era assinada por Fernando Assis Pacheco: José Saramago e Pilar del Rio na intimidade em Lanzarote.
Na economia, o destaque ia para a desvalorização do escudo e para a ideia de um cartão porta-moedas eletrónico, que nunca chegou a vingar, e também para a nova rede de Jardim Gonçalves, com o reforço do BCP para a crise económica que se sentia.
Algumas curiosidades mereciam pequenos textos: preservativos para elas, os mistérios do autocolante “Penélope” que andava em todos os carros, o regresso da “Crónica feminina” e os dez anos do “CD assassino”.
Clara Pinto Correia, Pedro Rolo Duarte, Helena Roseta e A.B. Kotter (pseudónimo do embaixador José Cutileiro) assinavam colunas de opinião. Carlos Queirós, Pedro Caldeira, Sharon Stone, Miguel Sousa Tavares, Pacheco Pereira e Mariano Gago eram alguns dos protagonistas.
Nos obituários, fazia-se a despedida de António Quadros, António José Saraiva e Natália Correia – que há duas semanas foi capa da VISÃO. É o que se chama voltar atrás para andar para a frente, homenageando o passado.