É como se a política fosse, desde sempre, parte indissociável da sua personalidade. Ainda no Secundário, já Paula Santos não resistia a participar ativamente na associação de estudantes da Escola Secundária Manuel Cargaleiro, em Amora. Sempre fiel às suas convicções, a vontade de “lutar” falou sempre mais alto, e foi crescendo com o passar dos anos. Hoje, com a saída de João Oliveira do Parlamento, Paula Santos, 41 anos, viu o seu nome ser confirmado como líder do grupo parlamentar do PCP – tornando-se na primeira mulher a ocupar o cargo (outro marco histórico, no período em que o partido ainda assinala o ano do seu centenário, assinalado em março de 2021).
Paula Santos nasceu em Lisboa, em 1980, mas residiu toda a vida no Seixal. Filha de militantes do PCP, cedo tomou consciência do caminho ideológico que queria seguir. Sensível à luta antifascista, às idiossincrasias do meio em que cresceu, foi com naturalidade que, ainda muito jovem, se juntou, pelo próprio pé, à Juventude Comunista Portuguesa (JCP), órgão de que viria a ser dirigente nacional. Na faculdade, repetiu a experiência como dirigente estudantil, agora na Associação dos Estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Química Tecnológica.
Concluído o curso, dedicou-se à política “a sério”. Nas Autárquicas de 2005, com apenas 25 anos, foi eleita vereadora da CDU na Câmara Municipal do Seixal (cargo que ocupou até 2009). A autarquia tornar-se-ia uma rampa de lançamento para “outros voos”. Reconhecido o seu trabalho, ingressou nas listas da CDU nas legislativas de 2009, como número dois pelo círculo de Setúbal – numa lista encabeçada pelo agora ex-deputado Francisco Lopes –, posição que repetiu nas reeleições seguintes para a Assembleia da República: em 2011, 2015 e 2019.
Membro do Comité Central do PCP, Paula Santos conquistou espaço na estrutura. E, sem surpresa, foi a escolhida para encabeçar a lista da CDU por Setúbal nas últimas legislativas. Embora já tenha liderado, interinamente, o grupo parlamentar do PCP (entre maio e agosto de 2020), em substituição de João Oliveira, Paula Santos assume, em 2022, o cargo de forma efetiva. Desta vez, liderando uma bancada que encolheu para metade: de 12 para seis deputados.
Nada, porém, que assuste a parlamentar. “Vai ser uma legislatura exigente, mas, da parte do grupo parlamentar do PCP, nunca desistimos, nunca cruzamos os braços, nunca deixamos de lutar por aquilo em que acreditamos. Ter menos deputados não é indiferente, mas olhamos para esta legislatura numa perspetiva de trabalhar, de intervir, de apresentar soluções para os problemas que afetam, os trabalhadores, o povo e o País”, afirma à VISÃO. “Os portugueses contam com o nosso trabalho para lutar pelas soluções. O nosso compromisso é que vamos trabalhar. E estamos cá para lutar por aquilo que é justo. É isso que marca a nossa intervenção”, reforça.
Descrita pelo secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, como uma “deputada de valor, com grande capacidade de intervenção”, Paula Santos substitui no cargo João Oliveira, líder parlamentar desde 2013 (altura em que substituiu no cargo Bernardino Soares), que falhou a sua eleição pelo círculo de Évora. O grupo parlamentar do PCP terá como vice-presidentes Bruno Dias (eleito por Setúbal) e Alma Rivera (por Lisboa). Jerónimo de Sousa (Lisboa), Diana Ferreira (Porto) e João Dias (Beja) completam a equipa comunista.