Jean-Pierre Cabestan, professor e diretor do departamento de Ciência Política da Universidade Batista de Hong Kong, chama-lhe “a maior sociedade secreta do mundo”. Faz sentido quando se sabe que o Partido Comunista Chinês (PCC) vive em simbiose com o Estado que sempre controlou de perto a informação, lembra o autor de Demain la Chine: Démocratie ou Dictature? (à letra, China Amanhã: Democracia ou Ditadura?).
Parte da opacidade do PCC, que comemora oficialmente o seu centenário a 1 de julho, é uma herança antiga – não esqueçamos que ele foi fundado na clandestinidade. Mas, tantos anos depois, torna-se claro que é sobretudo essa simbiose com a administração que dificulta a transparência.
Persistem, assim, uma série de factos desconhecidos sobre o partido e também algumas curiosidades.
UMA DATA DE FUNDAÇÃO “INVENTADA”
O dia 1 de julho passou a ser comemorado oficialmente a partir de 1941, por decisão de Mao Tsé-tung. A verdade é que o Partido Comunista Chinês nasceu durante um primeiro “congresso”, que reuniu secretamente uma dúzia de pessoas na antiga concessão francesa de Xangai, entre os dias 23 e 31 de julho. Vinte anos depois, o então futuro fundador da República Popular da China escolheu o dia 1 como data de aniversário.
NASCER NUM BARCO TURÍSTICO
A reunião que levou à fundação do PCC começou numa casa, mas foi interrompida pela polícia no dia 30 de julho. Os “delegados” mudaram-se, então, para um barco turístico que estava no Lago Sul, na cidade de Jiaxing, no norte da província de Zhejiang, no leste da China. Para assinalar o local da fundação, foi erguido um memorial à beira do lago que é muito visitado pelos chamados turistas “vermelhos”.
É O SEGUNDO MAIOR PARTIDO DO MUNDO
Em 1921, o PCC tinha apenas 50 militantes. Cem anos depois, o próprio partido afirma ter atingido os 92 milhões – embora nunca tenha tornado pública uma lista oficial. O número impressiona, mas ainda assim coloca o PCC atrás do BJP, o partido do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que tem 180 milhões de militantes.
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O QUE É PRECISO PARA SE TORNAR MILITANTE
Não basta querer aderir, é necessário o aval do partido. E as negas são constantes. Em 2014, apenas 2 milhões de candidaturas foram aceites, em cerca de 22 milhões de candidatos. Uma vez admitidos, os militantes passam um estágio de um ano, durante o qual são avaliadas as qualificações técnicas e educacionais. Os estagiários fazem um juramento de admissão perante a bandeira do partido. A partir desse momento, os seus direitos e deveres são semelhantes aos dos militantes efetivos. É-lhes permitido assistir a reuniões, ler documentos relevantes e fazer sugestões e críticas “bem fundamentadas” a qualquer organização ou membro, mas está-lhes vedado votar nas eleições do partido ou candidatarem-se a ser eleitos.
O SIGNIFICADO DA BANDEIRA
O vermelho simboliza a revolução e o amarelo a luminosidade. O martelo e a foice são ferramentas de trabalhadores e camponeses, significando que o Partido Comunista Chinês representa os interesses das massas e do povo.
CONTINUAM AS REUNIÕES SECRETAS…
O Comité Central, que tem 200 membros, reúne à porta fechada. O mesmo fazem os 25 membros do Bureau Político Central. Nem os debates nem os resultados das votação são tornados públicos. A televisão estatal apenas transmite os discursos do secretário-geral, Xi Jinping.
… E POUCO SE SABE SOBRE O SEU FINANCIAMENTO
Embora se saiba que o partido tem recursos próprios e que os militantes contribuem com 0,5% a 2% da sua receita, o orçamento não é público. Quanto ao seu património, o PCC está à frente de um império financeiro e dirige empresas, como hotéis e fábricas, lembrou Jean-Pierre Cabestan à AFP.