Doa-se muita roupa, já se sabe. Até dá jeito: esvazia-se o armário e alivia-se a consciência dando as peças a quem mais precisa. Mas poupar o ambiente, reciclando ou comprando em 2ª mão, ainda não convence os portugueses. Pelo menos a avaliar pelo estudo encomendado pela My Nametags, uma empresa britânica de etiquetas personalizadas que opera em Portugal através da sua loja virtual e que quis descobrir mais sobre os hábitos e tendências do ciclo de roupa nacional (o inquérito online a 1041 pessoas foi realizado em março e abril).
Ficámos por isso a saber que 52% das pessoas doa à caridade ou lojas de segunda mão a roupa que já não serve aos filhos, 46% afirma nunca ter comprado nada em segunda mão e 41% justifica a reposição das peças com o facto de elas deixarem de servir. Os artigos mais vezes substituídos são os sapatos (28,%), seguidos das calças ou saias (27%).
Quando questionados sobre as razões para não aproveitarem o advento de lojas e mercados com ofertas de roupa em 2ª mão (muitas delas online), 25% dos portugueses responde que a culpa é da facilidade em comprar artigos novos e 30% assume que a vontade de ter as últimas novidades da moda fala mais alto do que os graves problemas ambientais causados pelo consumo não consciente. De salientar que mais de metade dos inquiridos (58%) revelou que tem peças no armário por estrear.
A sustentabilidade aparece apenas como uma das razões para 8% da população comprar quase sempre em segunda mão, a par com a poupança de dinheiro. É caso para suspeitar que poucos terão conhecimento que um estudo da União Europeia indica que cada quilo de roupa recuperado (e não incinerado) representa 3,169 quilos de CO2 não emitidos. É só fazer as contas: de acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, 200 mil toneladas de roupas são descartadas anualmente.
Três planetas Terra, se faz favor
Perante estes dados, nem era preciso o Parlamento Europeu relembrar que o vestuário, o calçado e os têxteis para uso doméstico contribuem para a poluição da água e para as emissões de gases com efeito de estufa. Por exemplo, para produzir uma t-shirt são necessários 2700 litros de água – quantidade suficiente para uma pessoa se hidratar durante 2 anos e meio.
Mas é sempre importante alertar para a necessidade de redução dos recursos naturais na indústria da confeção, pois se eles continuarem a ser explorados como até então, já em 2050 serão precisos três planetas Terra para satisfazer as nossas necessidades consumistas.
Apesar dos números revelados neste estudo, a Humana, organização sem fins lucrativos que gere vestuário usado em Portugal, fez um balanço positivo da recolha de vestuário e acessórios no País, em 2020. Através da reciclagem e da reutilização, foram recuperadas 2.923 toneladas de têxteis para fins sociais, o que significa a não emissão de 9.262 toneladas de CO2. Graças às parcerias com os municípios e entidades privadas, a Humana dispõe de 838 contentores em território nacional, para que os cidadãos possam lá depositar as peças que já não pretendem utilizar. Só no ano passado, os portugueses fizeram-no 414.900 vezes. Doaram, lá está – até deu jeito.