Joana é do PSD e quer novas eleições. Mário é dirigente do CDS e não receia o confronto. Horácio admira Putin e teme que Portugal se transforme num País comunista. São três, dois do Porto e um de Lisboa, inconformados com a possibilidade de existir um governo de esquerda. Nas redes sociais, decidiram convocar manifestações para o próximo dia 7, no Porto, e 10, em Lisboa, e lançar uma petição com o mesmo objetivo: apoiar a indigitação do Governo PSD/CDS e impedir um Executivo liderado pelo PS, com apoio do BE e do PCP. Quem são eles?
Em Lisboa, Mário Gonçalves, 27 anos, é um dos organizadores do “dia da indignação” em frente à escadaria da Assembleia da República. A convocatória, para a qual este líder do CDS de Monforte espera “uma grande adesão”, está marcada para o próximo dia 10, altura em que se deverá votar a moção de rejeição do programa do Governo PSD/CDS. Para o mesmo dia e local, a CGTP agendou também uma manifestação, mas isso não é algo que preocupe este dirigente centrista: “Continuaremos a protestar mesmo que outro governo venha a ser indigitado. Alguma coisa há de dar. Se der para o torto, também estamos cá para isso”, avisa, em conversa telefónica com a VISÃO.
Diretor de campanha do CDS em Elvas nas últimas autárquicas, este musicoterapeuta defende “a união da direita” para “evitar o regresso dos esquerdismos que tanto prejudicaram Portugal”. Segundo Mário Gonçalves, as consequências de uma governação do PS com apoio do BE e do PCP “seriam desastrosas” e “facilmente regressaríamos ao clima de 1975”. O presidente do CDS de Monforte garante que o movimento lançado no Facebook não obedece a qualquer estratégia concertada entre estruturas partidárias. “Foi uma coisa voluntária, um impulso cívico, mas não posso, obviamente, impedir a participação de dirigentes do PSD e do CDS. O direito à indignação é livre”, resume. Neste momento, estão a ser preparados cartazes e divulgados vídeos de 30 segundos com figuras que aderiram ao movimento nas redes sociais, entre as quais Zulmira Ferreira, mulher do treinador Jesualdo Ferreira, e a consultora de comunicação Alexandra Figueiredo. Estas ações de protesto podem, de facto, não envolver diretamente estruturas do PSD e do CDS mas, ao que apurou a VISÃO, vários dirigentes locais da coligação de direita vão participar e estão a ajudar à mobilização.
Contra trotskistas e marxistas-leninistas
No Porto, foi Joana Valério, 34 anos, militante do PSD, quem decidiu arregimentar o povo de direita, sempre em sintonia com Mário Gonçalves. A manifestação contra a moção de rejeição da esquerda está também marcada para dia 7, na Praça D. João I. O símbolo da convocatória, tal como em Lisboa, é a bandeira de Portugal. Os aderentes – que se contam já aos milhares – foram também convidados a levar panos com o nome das cidades e vilas do norte e centro do País. “As palavras de ordem serão União, Estabilidade, Responsabilidade e Credibilidade”, esclareceu Joana à VISÃO. Esta admiradora de dois Franciscos – o fundador do PSD, Sá Carneiro, e o Papa – receia que António Costa venha a liderar um Governo sujeito “às exigências típicas” de trotskistas e marxistas-leninistas, carregadas de “ilusões fáceis”. Esta empresária com experiência em voluntariado nacional e internacional não põe em causa o pluralismo de ideias e recusa a ideia de uma manifestação de partidos contra partidos, mas pretende dar lastro a um “sentimento de revolta” que ameaça colocar Portugal “numa perigosa encruzilhada”. Joana Valério desafia, pois, os cidadãos que não se revêm numa solução a esquerda a exercer o direito à indignação. “Recorreremos a todas as formas legais e democráticas de contestação e solicitaremos, em nome da confiança e honestidade política, novas eleições legislativas”.
Horácio Vilela, 26 anos, estará, certamente, em sintonia com este argumentário, mas preferiu outra via para o protesto: lançou uma petição online “contra a formação de Governo à Esquerda” que, esta sexta-feira, 30, ultrapassou as 6600 adesões, apesar de a meta se centrar em 100 mil assinaturas. “O objetivo não é quantitativo, mas simbólico”, ou seja, destinado a traduzir “uma ação cívica contra a desonestidade”, esclarece este empresário da área da moda, mestrando de Filosofia na Universidade do Porto. Horácio não é, nem nunca foi, militante de qualquer partido. “Sou um patriota”, assume. Na sua perspetiva, Portugal deve reincarnar o ideal da “saudade”, ou como quem diz “o espírito de levar a pátria ao progresso mesmo não conhecendo o seu porto”.
Horácio recusa a transformação do País num “franchise estrangeiro” e, na sua página pessoal no Facebook, terça armas contra os “propagandistas do Exército Vermelho” que “andam a brincar com a credibilidade de Portugal”, acusa. “É isto que queremos? Um País sem moral, sem credibilidade, sem Deus?”, questiona, atacando a esquerda parlamentar, cujos programas considera, no mínimo, alarmistas. “Estes partidos nem deviam ser permitidos na Assembleia, quanto mais formar governo!”, desabafa. A sua admiração vai, entretanto, para Vladimir Putin, “um líder como há muito não se via, que pegou numa nação destroçada a todos os níveis e devolveu-lhe dignidade”. Mas o País de Horácio Vilela “é de Afonsinos, de Aviz, de Bragança, de Camões, de cristãos e famílias lusas; não é de Marx, de Engels ou de Lenine, não é de mouros ou de Eusébio!”, proclama. Para ele, isto ainda agora começou: “Temos um País dividido entre norte e sul, direita e esquerda, e posso assegurar que o norte não irá ficar de braços cruzados enquanto o País se torna comunista”.