Nada reflecte melhor a sociedade portuguesa, do que o “Bolo-rei”!
O “Bolo-rei” tem todos os ingredientes da realidade neste pais!
…bem, todos…todos, talvez não tenha!…acho que nunca vi nada, que seja colocado na sua superfície, que tenha uma cor azulada!
Para muitos, o “bolo-rei” é um produto nacional!…Claro, assim que para muitos ” o capitalismo é a essência do socialismo!”
Perante um “Bolo-rei” as classes sociais, em Portugal, posicionam-se de acordo com os seus interesses.
Os “ricos” preferem o “Bolo-rei” com um buraco central bem visível!…já os “pobres” preferem que ele seja maçudo e quase sem buraco!
…depois, as frutas que o ornamentam, também reflectem a nossa realidade histórica. Os figos abertos em verde esperança, nada mais exprimem, que o desejo da vida dos ricos continue nos padrões da família, … e o vermelho das cerejas, … pois, significa o sangue daqueles que trabalham até morrer. O vítreo da abóbora cristalizada, nada mais expressa, do que aqueles que trabalham…trabalham…mas, não saem da cepa torta!… as cascas alaranjadas e rosadas, sim, essas representam a ilusão dos que querem humanizar a exploração capitalista!
…mas o ” Bolo-rei” não é só a sua composição exterior, ou seja a sua forma. É algo mais. É o seu conteúdo!
…massa, pinhões, nozes, canela e passas!
…durante o fascismo, no seu interior estava oculto, o brinde e a fava!
…o ” Bolo-rei” era um sucedâneo da lotaria do Natal!…era comprado inteiro e servido à fatia!
…o brinde, era uma sorte!…a fava uma divida!
…agora, nos tempos modernos da democracia, o “Bolo-rei” é supra nacional. Nem fava nem brinde!
…por isso temos, na economia de mercado, o ” Bolo-rei” para diversas bolsas!
…temos o do “Pingo Doce” para os reformados, pensionistas e desempregados. …e depois temos, o da “confeitaria nacional”, para os que estão acima da lei e para os políticos!
…o da “Versailles”, tão apreciado pela Zita Seabra…já não conta, é uma carta fora do baralho!…nos tempos da clandestinidade, até o “barreirinhas cunhal” se lambia!
…o ” Bolo-rei” não remonta à idade das cavernas no Foz Côa, porque nesse contexto não havia espaço para as guloseimas.
…foi preciso deus dar nozes a quem não tens dentes, para que a sociedade portuguesa pudesse apreciar o “Bolo-rei” como deve ser!