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Ontem, 13 de Outubro, tive uma visão. Ao ver televisão, um flashback momentâneo permitiu-me ver os euros que choveram na minha carteira pelos anos da minha actividade de funcionário público. Tinha a carteira encharcada quando comecei a ouvir Passos e um governante irrompeu do ecrã brilhando com um disco de prata. No entanto, era possível realmente olhar para ele, sem que a sua luz ofuscasse. Isso foi por um instante. Logo depois começou a falar e disse que os Portugueses estavam quase a ser engolidos por um buraco orçamental colossal e que tínhamos urgentemente de o tapar para não cairmos no fosso. Ainda olhava para ele, assombrado, quando começou a “dançar”: girava sobre si mesmo, como uma bola de fogo, e então parou. Logo voltou a girar, mas velozmente. Ainda girando, as suas orlas ficaram escarlates e começaram a lançar medidas de austeridade por todo o lado que irrompiam do ecrã como chamas: cortes de subsídios, aumentos de IVA, reduções nas deduções nos impostos,… Com isso, a sua luz reflectia-se em mim com as diferentes cores do espectro da luz branca e queimava-me. Ainda girando rapidamente, e espargindo chamas coloridas, por três vezes o homem pareceu desprender-se do ecrã e precipitar-se em zigue-zague em direcção à minha carteira.
Julguei ser o meu fim, ajoelhei-me no chão pedindo perdão pelos meus pecados. Sim, fiz uma confissão em altos brados de que era um escroque de um funcionário público sem vergonha que cavava há muito o buraco onde todos seriam engolidos. Penitenciei-me por cumprir as minhas obrigações profissionais e fiscais, pelos meus devaneios consumistas que ajudavam a procura interna, por não recorrer ao crédito para pagar luxos e por não ter tido a capacidade intelectual e material de chegar a gestor público, presidente de câmara com contas na Suíça, banqueiro ou deputado avençado de qualquer empresa de construção civil, da área energética ou outra consumidora das gorduras do Estado. O fenómeno durou por uns dez minutos e depois, elevando-se em zigue-zague, o homem voltou à sua posição normal e mais brilhante ainda, ofuscando-me como um membro de governo comum. Reparei, então, que a minha carteira tinha secado subitamente. Dei por mim a gritar: “Milagre! Milagre! Os Portugueses tinham razão quando votaram neste governo! O governo está a fazer o milagre de nos salvar das garras do défice, das empresas de rating, do poder financeiro e do diabrete do Alberto João!” Sim, chorei de alegria porque ia salvar o País. A solução estava aqui à mão! Era a minha carteira! Bendito sejam. Obrigado pela minha salvação e a de todos os Portugueses… Obrigado por me manterem ainda como funcionário público pois, sempre que necessário, um qualquer governante iluminado poderá precipitar-se, ziguezagueante, sobre a minha carteira e fazer outro milagre.
Depois desta visão, tive um momento de recolhimento e pensei: “O que não daria por uma boa salada de lavagante…”.