Eu adoro as palavras com o mesmo fervor e a mesma urgência com que outros lhes fogem. Há quem prefira os números, tão mais funcionais, operacionais ou objectivos, mas para mim tão desprovidos de vida, tão independentes de sentidos e emoções.
Para mim as palavras são um mundo à parte e deleito-me no seu subjectivismo, na capacidade de me converter em caracteres sómente para me transformar em algo que vá para além do meu”eu”…
Os números são iguais para toda a gente, independentemente de quem os rabisque numa qualquer folha de papel, independentemente de quem os possa tentar dissecar e compreender usando da fria lógica… as palavras são fluídas, abstractas ou concretas, transportando um pouco da minha identidade única a quem me lê, mesmo que não me conheça. No entanto são maleáveis na sua interpretação, passíveis de ser moldadas por vidas que não a minha, concordantes com vivências… que não a que escrevo a cada dia, tão estranhas a quem as possa virar do avesso porque lhes são indiferentes… Por isso entrego-me sem medo às palavras, como a um mundo que desmistifico sem sucesso aparente… mas jamais as desejo converter em números.