

Sistema de carregamento bidirecional da ENEL

Imagine o seguinte cenário: carrega o seu carro elétrico num posto grátis ou durante as horas em que a energia é mais barata e depois usa essa carga para alimentar a casa quando a energia é mais cara. Um cenário que vai ser já possível, pelo menos em Itália.
Já se sabia que os carros elétricos da Nissan estavam preparados para “devolver” energia à rede, mas ainda não existia uma utilização prática desta tecnologia, normalmente conhecida por Vehicle to Grid (V2G). Com o acordo agora anunciado pela Nissan e pela ENEL, a maior operadora de energia elétrica de Itália, o V2G vai poder ser utilizador em benefício dos utilizadores de veículos elétricos. O conceito do V2G é relativamente simples: a bateria do carro pode funcionar como um reservatório de energia, que carrega quando existe muita energia disponível (produção com base em fontes renováveis) e descarrega para a rede quando a energia produzida pelas centrais é menor ou mais poluente. Quando utilizada no contexto de redes elétricas inteligentes, o referido reservatório de energia pode ser utilizado para compensar picos (por exemplo, diminuir a potência máxima contratada para uma determinada casa) ou nos horários em que a energia mais cara, levando a poupanças na fatura energética.
Em declarações à Exame Informática, Erneto Ciorra, Chief Innovation Officer da ENEL referiu que, «no limite, este tipo de utilização pode eliminar quase por completo a conta de eletricidade. Imaginemos um cliente nosso que usa painéis solares para carregar o carro durante o dia e depois usa a bateria do carro para alimentar a casa durante a noite».
Uma opinião reforçada por Paul Willcox, presidente da Nissan Europa, que garantiu que o V2G tem o potencial para alterar por completo o funcionamento das redes elétricas: «Atualmente é necessário manter centrais elétricas baseadas em fontes não renováveis em funcionamento muitas vezes apenas para garantir consumos de pico e para compensar os dias em que a produção baseada em renováveis não é suficiente porque, simplesmente, não há sol ou vento», acrescentado «as baterias dos nossos carros podem ser usadas para compensar essas variações, devolvendo à rede energia na altura em que esta é mais necessária». Para o responsável, esta «tecnologia revolucionária tem o potencial para baixar custos, estabilizar a rede elétrica e diminuir o consumo de combustíveis fósseis».
Os responsáveis da Nissan acreditam que o V2G vai aumentar o valor percecionado do veículo elétrico, já que através do V2G os utilizadores poderão, segundo estudos da marca, ganhar entre 1500 a 2000 euros por ano. Paul Willcox vai ainda mais longe «os nossos clientes vão descobrir que os veículos elétricos também são máquinas de fazer dinheiro».
Mas não pense que vai já baixar a fatura de eletricidade com o seu Leaf. Isto porque a implementação do V2G depende de muitos fatores, a começar pela legislação de cada país. Apesar de a Nissan já estar em conversações com operadores que operam em Portugal, ainda não há qualquer anúncio da utilização do V2G no nosso país.