Sem critérios estilísticos, passando pelo flamenco, música tradicional cabo-verdiana, techno, dub ou canto coral, e afastando-se do chavão de festival, a segunda edição do Vale Perdido tomará conta de Lisboa esta semana, com um tipo de programação itinerante, à semelhança do que aconteceu em 2023.
Entre esta quarta, 13, e sábado, 16, locais tão diversos quanto o Armazém do Grilo, o B.Leza, o Centro Ismaili, a Sala LISA e um ringue de boxe no Cosmos CAC serão palco de “um ciclo de programação” com propostas musicais “emparelhadas da forma mais delicada possível”, nas palavras de Joaquim Quadros, fundador do projeto a par de Sérgio Hydalgo, Gustavo Blanco e Ricardo Lemos.
O programa conta com 12 “atos artísticos”, da performance à música experimental, passando pelas canções, a música tradicional e contemporânea africana e o clubbing expansivo, entre outros, numa narrativa que foi criada “noite a noite”, explica Joaquim, “com momentos, lugares e muitas ideias diferentes a ligarem-se entre si”.
Eis o que poderá ver, a cada dia
13 de novembro, quarta, Centro Ismaili
A edição deste ano começa no Centro Ismaili com uma performance livre de Tristany Mundo, seguida do concerto de alaúde e electrónicas de Dirar Kalash, um dos nomes percursores da música improvisada palestiniana, e de Ãssia Ghendir, artista da Argélia responsável por trabalhar a voz com propósitos somáticos e estudiosos da ancestralidade do canto.
Além da sua qualidade musical, a presença de Kalash e Ghendir é um ato de resistência, da organização e dos próprios artistas, já que substituem a vocalista e compositora Maya Al Khaldi e a produtora e artista sonora Sarouna, que deveriam atuar a 13 de novembro, mas viram-se impossibilitadas de marcar presença em Lisboa. “O nosso coração está com elas e com toda a comunidade palestiniana”, afirmou a organização em comunicado.
14 de novembro, quinta, B.Leza e Sala Lisa
Nesta quinta, 14, no B.Leza, é a vez da californiana Jessica Pratt apresentar o seu último álbum, Here In the Pitch, que marca o regresso da cantautora, após Quiet Signs, lançado há cinco anos.
Largamente aclamado ao longo de 2024, o álbum já foi apelidado pela crítica de “folk espectral desestruturada”, “um sonho que não nos leva a lado nenhum, mas que, ainda assim, sentimos que deveríamos mencionar em terapia”, ou mesmo uma obra onde “tudo parece pensado de forma a exaltar a beleza e vulnerabilidade dos temas”.
A primeira parte do concerto estará a cargo de Leonor Arnaut, nome em ascensão do jazz nacional. Até à data, a artista tem-se apresentado sempre com outros músicos, como Yaw Tembe, Mariana Dionísio, Norberto Lobo ou Ricardo Martins, porém chega ao Vale Perdido com uma apresentação inédita em nome próprio.
Logo depois, na Sala LISA, terá lugar a música eletrónica mais atmosférica, através dos Purelink, um trio de Chicago que “evoca uma memória distorcida em volta do dub, shoegaze, glitch, jungle e tantas outras manifestações”, seguidos do DJ XCI.
15 de novembro, sexta, Cosmos CAC
A noite de sexta feira, 15, que tem lugar no Cosmos CAC, inicia-se com um jantar com a Africandé, associação nascida da inspiração e memória de Bruno Candé, ator português da companhia de teatro Casa Conveniente, assassinado a 25 de julho em Moscavide, vítima de crime de ódio racial.
Após o jantar, sobe ao ringue de box do Cosmos CAC a Banda Sousa, liderada por Sousa Fernandes, artista que homenageia o kotxi pó, género musical cabo-verdiano, e da qual fazem também parte músicos do Vale da Amoreira e alguns colaboradores do próprio Dju di Mana (residente em Cabo Verde), pioneiro no género musical em causa.
Segue-se Nuno Beats, um dos promissores produtores da sua geração.
16 de novembro, sábado, Armazém do Grilo
O Vale Perdido fecha com chave de ouro, no Armazém do Grilo a partir das 18h deste sábado, 16, através de uma festa “onde se desconstrói a música de clube”, com DJ Caring, Gamma Intel, Elena Colombi e Meibi.
Vale Perdido > 13-16 nov, qua-sáb > programação completa AQUI