É conhecido como o fundador do jornal A Bola e como o patrono da supertaça de futebol masculino, mas Cândido de Oliveira é muito mais do que isso. A sua vida dava um filme. E deu.
Quem teve a perspicácia de entender as múltiplas dimensões da personagem foi Jorge Paixão da Costa, realizador que se tem dedicado nos últimos anos a produtos televisivos, mas que tem no seu percurso algumas importantes produções cinematográficas, vocacionadas para o grande público.
Tal como Soldado Milhões, Cândido – O Espião que Veio do Futebol é um filme de época, só que em vez de se passar na I Guerra Mundial (1914-18), onde Portugal participou diretamente e teve muitas vítimas, passa-se na II Guerra Mundial (1939-45), em que o País manteve uma aparente neutralidade, sofrendo fortes pressões da Alemanha e de Inglaterra.
Enquanto havia a ameaça ou a putativa hipótese de que a Alemanha de Hitler invadisse ou anexasse a Península Ibérica fascista, a espionagem britânica fazia os seus jogos no terreno, para sabotar a possível invasão, à revelia de Salazar, criando condições para a estruturação de uma resistência. Por motivos ideológicos e financeiros, Cândido de Oliveira foi um dos mais decisivos elementos no terreno da rede britânica.
Paixão da Costa faz um retrato sóbrio e decente de Cândido de Oliveira, com cuidado de contextualização na época. O pano de fundo é o futebol. Na altura, Cândido era treinador do Casa Pia e selecionador nacional, além de dirigir a revista Stadium. No filme, é retratado como um bom malandro, o portuguesíssimo desenrasca, em constante luta pela sobrevivência e pelas suas paixões, e com uma subcamada de grandes princípios morais.
Jorge Paixão da Costa não faz um cinema de encher o olho estética e narrativamente. Contudo, Cândido cumpre perfeitamente o papel de contar bem uma história, de forma empolgante, sem se perder em subterfúgios de género.
Cândido – O Espião que Veio do Futebol > De Jorge Paixão da Costa, com Tomás Alves, Filipe Vargas, Teresa Tavares e Carloto Cotta > 90 min