Roman Polanski já havia experimentado a comédia em, pelo menos, duas ocasiões. Logo em 1967, em Por Favor Não Me Morda o Pescoço, em que desconstruiu de forma hilariante o género do cinema de vampiros, e em Che?, cinco anos depois, uma perversa aventura ao estilo de Fellini.
As comédias são, no entanto, objetos raros na longa filmografia do realizador de 90 anos, pelo que não deixa de ser surpreendente que regresse ao género naquele que possivelmente será o seu derradeiro filme (de momento, não tem nenhum outro em preparação).
Se em Che? havia uma clara aproximação a um registo felliniano, em O Hotel Palace é inevitável encontrar afinidades com Wes Anderson em, muito concretamente, Grand Budapest Hotel, e também um pouco com Paolo Sorrentino, em A Juventude. Inevitavelmente, o filme fica aquém de qualquer um dos dois e não se pode dizer que seja uma despedida em grande, ao nível das maiores obras que Polanski nos deixa, de A Faca na Água a O Deus da Carnificina, passando por Repulsa, A Semente do Diabo ou Chinatown. Não quer com isto dizer que O Hotel Palace não tenha alguns momentos hilariantes de humor, ao lado de outros algo excessivos.
A estrutura narrativa é simples. Um hotel de alto luxo nos Alpes suíços recebe anualmente, para o Natal, um conjunto de hóspedes milionários e excêntricos, e o pessoal esforça-se para satisfazer os seus mais insanos caprichos. É um filme feito de personagens caricaturais que se desenvolve por quadros. Em cada um destes quadros há peripécias. Não há necessariamente um cruzamento entre as figuras, o espaço do hotel é por si só agregador.
Entre as personagens, sempre com um elevado grau de excentricidade aceitável em comédia, encontramos grandes atores, como Mickey Rourke, num papel que deve inspirar-se em Trump; John Cleese, que contracena com Bronwyn James (numa cena que até lembra Che?); Fanny Ardant, como marquesa, num papel pouco conseguido; ou o “nosso” Joaquim de Almeida, que desta vez não faz de vilão mexicano, mas antes de um médico que extravasa os limites da sua ciência.
De resto há de tudo, desde a máfia russa em operações improvisadas de lavagem de dinheiro a uma casa de banho relvada, passando por um pinguim à solta nos corredores do hotel.
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O Hotel Palace > De Roman Polanski, com Oliver Masucci, Fanny Ardant, John Cleese, Mickey Rourke e Joaquim de Almeida > 100 min