Tudo começou quase como uma brincadeira de adolescentes, há 30 anos. Reza a lenda que a organização da primeira edição do Festival de Paredes de Coura foi feita em pouco mais de uma semana, com bandas portuguesas (os Ecos da Cave funcionavam como cabeças de cartaz) a atuarem num só dia.
Foi assim até 1996, quando, a medo, decidiram passar a cobrar um bilhete (custava mil escudos, €5) e alargaram o programa a três dias (nesse ano, já houve nomes mais sonantes: Mão Morta, Da Weasel, Primitive Reason…). Em 1997 dá-se um grande passo em frente, com a inclusão de bandas estrangeiras: Paradise Lost, Smoke City e Rollins Band rumaram àquele recanto minhoto.
Mas foi em 1998 que começou a parecer-se mais com aquilo que é hoje: uma referência, em cenário privilegiado, para quem acha que num festival os concertos são mesmo importantes, gosta mesmo de música e está atento às novidades. Nesse ano, passaram por lá, entre outros, Red House Painters, Tindersticks, The Divine Comedy.
Há 30 anos que Paredes de Coura, município minhoto de acessos difíceis e que poucos portugueses conseguiam apontar no mapa, passou a rimar com rock. Sempre nas margens do rio Coura, na Praia Fluvial do Taboão (ainda hoje se encontra gente a falar dum, inexistente, rio Taboão).
João Carvalho mantém-se na organização desde o primeiro, e boa parte do sucesso do festival vem da sua base: miúdos da terra a quererem fazer coisas acontecer ali. Já contam com muitos momentos históricos no currículo: os primeiros concertos dos Arcade Fire e dos Coldplay em Portugal, o único concerto dos Sex Pistols no nosso país (2008), um regresso apoteótico dos Ornatos Violeta (2012), uma inspirada e inspiradora Patti Smith (2019), ou, simplesmente, a memória da felicidade de Erlend Øye (dos Kings of Convenience) num insuflável nas águas do rio Coura.
Trinta anos depois…
Da pop de Lorde à suavidade de Tim Bernardes, a música começa a ouvir-se na Praia Fluvial do Taboão a partir desta quarta, 16. Destacamos sete concertos desta edição de aniversário.
1. Fever Ray
Karin Dreijer é uma das metades do duo sueco The Knife (formado com o irmão Olof, em 1999), que, desde 2009, lança álbuns como Fever Ray (o terceiro, Radical Romantics, saiu já neste ano). As suas canções constroem-se sobre um rendilhado eletrónico, ora intenso e dançável, ora mais melancólico, muito eficaz em palco – a fazer pensar nas portas que a islandesa Björk (com quem já colaborou) abriu na pop contemporânea. 17 ago, qui
2. Tim Bernardes
O paulista Tim Bernardes, aos 31 anos, transporta bem acesa, a chama da MPB. Consegue já ter um estilo próprio e fazer lembrar os grandes mestres, como Caetano Veloso, que dele disse: “Uma maravilha de afinação, controlo da dinâmica, refinamento, execução instrumental e liberdade na elegância do uso do palco e da luz.” Já conquistou o público português, e as canções de Mil Coisas Invisíveis (álbum de 2022) têm tudo para combinar muito bem com o descontraído verde de Paredes de Coura. 17 ago, qui
3. A Garota Não
Em Paredes de Coura sempre se olhou com muita atenção e carinho para a música feita em Portugal (aliás, até 1996 só se ouvia ali música portuguesa). E neste ano faz todo o sentido a presença d’A Garota Não, que tem percorrido o País (esteve, recentemente, com casa cheia no FMM, em Sines) e arrebatado um público crescente, com a sua voz grave e ainda as canções do disco 2 de Abril, que lançou em 2022, como O Prédio mais Alto, Dilúvio e Tantos Desencontros. 17 ago, qui
4. Little Simz
O hip-hop nunca foi o prato forte em Paredes de Coura. Mas, depois do que se (ou)viu no NOS Primavera Sound, no Porto, em 2022, é certo que a londrina Little Simz, e a sua superbanda (tão à vontade no R’n’B, como no jazz ou no rock), tem tudo para triunfar em Paredes de Coura. Recorde-se que o seu disco do ano passado, Sometimes I Might Be Introvert, foi vencedor do prestigiado Mercury Prize (que anualmente escolhe o melhor disco britânico) e que Little Simz foi considerada a melhor artista revelação nos Brit Awards. 18 ago, sex
5. Black Midi
Fazem parte da nova cena rock britânica, pós-Brexit, ao lado de nomes como Black Country, New Road e Shame. Os Black Midi são conhecidos pelos concertos intensos, com abruptas mudanças de ritmo e viragens alucinadas, a fazer pensar na liberdade do free jazz, aplicada a um rock com tanto de punk e noise como de experimental – com as guitarras sempre em primeiro plano. Até à data, lançaram três álbuns (sendo o último Hellfire, de 2022), mas o hype à sua volta foi crescendo, sobretudo, devido aos concertos em pequenas salas. 18 ago, sex
6. Lorde
Quando atuou pela primeira vez em Portugal, em 2014, no Rock in Rio, tinha apenas 17 anos e o mundo aos seus pés. Ficou para sempre com a imagem de menina-prodígio, vinda da Nova Zelândia, apesar da maturidade e da solidez que já então demonstrava. Agora, aos 26 anos, parece – e é – uma experiente performer, dominando o palco. Em março deste ano, a cantora anunciou que tinha chegado ao fim a Solar Power Tour, baseada no terceiro álbum, e falou dos concertos deste verão como um post scriptum a essa digressão. Faz todo o sentido que não esqueça essa canção, Solar Power, declaração de amor ao verão, ao sol e ao calor (o que nem sempre é garantido nos dias de festival, em Paredes de Coura…). 19 ago, sáb
7. Wilco
Anunciaram, nesta semana, que têm um álbum novo, Cousin, pronto a ser lançado (o que acontecerá a 29 de setembro), e o single Evicted já se pode ouvir por aí. O disco foi produzido pela galesa Cate le Bon, o que promete algumas novidades no som da banda. Mesmo sem um trabalho novo para apresentar, os Wilco, formados em 1994, em Chicago, seriam sempre uma aposta segura, com as suas canções intemporais, bem representativas do que é o som indie e “alternativo” na música popular norte-americana das últimas três décadas. 19 ago, sáb
Vodafone Paredes de Coura > Praia Fluvial Taboão > 16-19 ago, qua-sáb > €60, €120 (passe)