1. A Baleia, de Darren Aronofsky
Darren Aronofsky, realizador talentoso, mas algo irregular, do indie norte-americano, já está habituado a dar excesso de peso a algumas das suas personagens, proporcionando assim aos atores excelentes oportunidades para brilharem. Foi o caso flagrante de The Wrestler, que fez renascer das cinzas Mickey Rourke, de Cisne Negro, com uma arrebatadora Natalie Portman, e agora d’A Baleia, com Brendan Fraser a merecer uma nomeação para os Oscars. Em A Baleia, o excesso de peso é também literal, mas nota-se sobretudo na densidade psicológica da personagem. É um filme excessivo, tal como de alguma forma o foram os dois supramencionados, mas aqui levado a novos limites, trabalhando a ideia de autoconfinamento.
Ao contrário do que possa parecer, A Baleia não é um filme sobre a obesidade mórbida, mesmo que estejam lá alguns dos seus clichés. É, antes, um filme sobre a decadência. Charlie não é apenas gordo, é disforme. Mas o filme não retrata sequer o bullying, fala-nos antes de um estado depressivo e autodepreciativo continuado, que leva a uma espécie de suicídio a médio prazo, resultante de um desgosto amoroso profundo, ligado à afirmação da homossexualidade. Paradoxalmente, Charlie é um tutor online, de câmara desligada, num estilo coach motivacional, próximo da autoajuda.
2. Tár, de Todd Field
Cate Blanchett é uma das grandes favoritas ao Oscar para melhor atriz, o que aconteceria pela terceira vez, depois do reconhecimento pelas suas interpretações em O Aviador, de Martin Scorsese, e Blue Jasmine, de Woody Allen. No filme de Todd Field, a atriz veste a pele de Lydia Tár, uma das maiores compositoras alemãs e a primeira mulher a dirigir uma grande orquestra naquele país. Uma história de uma figura genial, mas que esconde uma personalidade turbulenta com muitos segredos por revelar.
3. EO, de Jerzy Skolimowski
Com um pouco de boa vontade, o burro do filme de Jerzy Skolimowski poderia ser nomeado para o Oscar de Melhor Ator, mas a academia ainda não abriu quotas para equídeos. Além disso, para interpretar EO, o brilhante protagonista do filme do realizador polaco, foram necessários seis burros, cada um menos teimoso do que o outro. Mas, claro, o realizador, que se entregou à tarefa de dirigir animais conhecidos pela sua casmurrice, no final fez questão de deixar a nota de que nenhum deles foi maltratado e que todo o filme é uma declaração de amor aos animais.
EO inspira-se assumidamente em Peregrinação Exemplar (Au Hasard Balthazar, 1966), clássico de Robert Bresson. O burro é protagonista, mas, acima de tudo, um fio condutor, para mostrar a visão do realizador sobre o mundo. De certa forma, EO é um filme de aventuras, de peripécias, em que, através da involuntária peregrinação do animal, somos convidados a refletir sobre a natureza humana.
Autor de filmes como Quatro Noites com Ana e Essential Killing, Jerzy Skolimowski, veterano realizador polaco, chega desta forma, pela primeira vez, aos Oscars. Mas o grande favorito na categoria de melhor filme estrangeiro é A Oeste Nada de Novo, do alemão Edward Berger (disponível na Netflix).
4. Ice Merchants, de João Gonzalez
Ice Merchants, do jovem realizador João Gonzalez, fez história ao confirmar-se como o primeiro filme português, em qualquer categoria, a ser nomeado para um Oscar, no caso para melhor curta metragem de animação. Este feito inédito coroa o percurso notável que o filme tem feito, recebendo anteriormente um prémio no Festival de Cannes, o prémio principal do Curtas de Vila do Conde, entre outros. Visualmente deslumbrante, com um ambiente surrealista e preocupações ambientais, o filme teve coprodução britânica e confirma o talento de João Gonzalez, nascido no Porto, que além de realizador também é músico, tendo composto a banda sonora do filme.
5. A Voz das Mulheres, de Sarah Polley
Sarah Polley, realizadora, atriz e ativista canadiana, leva para o grande ecrã uma história que chocou o mundo. Partindo do romance de Miriam Toews, o filme reporta-se aos acontecimentos descobertos em 2018, no seio de uma comunidade ultraconservadora de menonitas (uma variante do cristianismo) na Bolívia. Ao longo de anos, os homens drogavam, violentavam e violavam as mulheres, refugiando-se depois nos códigos sociais, altamente machistas, para alegarem que as queixas e os relatos se deviam a delírios femininos. Um filme impressionante, que também está na calha dos Oscars (nomeado para Melhor Filme e Melhor Argumento Adaptado) e conta com um precioso elenco feminino, que inclui Frances McDormand, Rooney Mara, Claire Foy e Jessie Buckley. Estreia 9 março
6. Os Fabelmans, de Steven Spielberg
Através de uma história semiautobiográfica, Steven Spielberg convida-nos a redescobrir a arte e a magia do cinema. Os Fabelmans não tem propriamente o tom de um manifesto por uma causa que para muitos parece perdida. Mas, ainda assim, acaba por ganhar esse poder, adquirindo especial impacto por vir das mãos de um dos mais admirados e populares realizadores de Hollywood (nos Globos de Ouro, Spielberg levou para casa o prémio de Melhor Filme Dramático e Melhor Realizador). Em exibição nas salas de cinema portuguesas, Os Fabelmans recebeu sete nomeações para os Oscars em categorias como Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Atriz (vénia a Michelle Williams) e Melhor Banda Sonora Original, para o compositor John Williams.
7. Os Espíritos de Inisherin, de Martin McDonagh
Com nove nomeações aos Oscars, incluindo Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Ator para Colin Farrell, Os Espíritos de Inisherin integra também a lista dos filmes mais nomeados.A comédia negra do realizador britânico Martin McDonagh remonta aos anos 20 e leva-nos até à costa ocidental da Irlanda através da história de dois velhos amigos, que já não o são mais.
8. Avatar: O Caminho da Água, de James Cameron
Foi necessário esperar 13 anos para que o filme mais lucrativo de todos os tempos ganhasse uma sequela. Com quatro nomeações aos Oscars, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Som, Melhor Design de Produção e Melhores Efeitos Visuais, o novo Avatar: O Caminho da Água de James Cameron está em exibição nas salas portuguesas desde o passado dia 15 de dezembro. Até ao final de 2022, em apenas três semanas em exibição, a sequela arrecadou 4,2 milhões de euros e levou 598 mil pessoas aos cinemas nacionais. E continua a somar.