“Parece muito óbvio: deu muito dinheiro, então que se faça uma sequela. Mas Steven Spielberg não fez uma sequela do ET, apesar do enorme sucesso do filme. As coisas não são assim tão lineares”, explica o realizador James Cameron, na conferência de Imprensa global, à distância, sobre o novo Avatar – O Caminho da Água, justificando assim como foi resistindo à pressão de fazer uma sequela do comercialmente mais bem-sucedido filme de todos os tempos. Foi necessário esperar 13 anos, em que Cameron aproveitou para amadurecer e aprofundar as ideias de uma continuação de Avatar, que começara a desenvolver pouco depois da estreia do filme, em dezembro de 2009.
A aposta da Disney no novo Avatar é muito forte em termos financeiros, e a empresa até já desenvolveu uma zona inspirada em Pandora, num dos parques temáticos Mas, apesar de James Cameron ser um realizador habituado a bater recordes de audiências, fica a expectativa de se O Caminho da Água conseguirá superar o êxito de bilheteira anterior. Será difícil, porque os costumes mudaram radicalmente, nos últimos anos, e a explosão das plataformas de streaming fez com que muitos perdessem o hábito de ir ao cinema. Mas grandes blockbusters, como este, são ainda vistos como um bálsamo para a indústria.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/12/221215_2048_AVATAR-2-2365_0110_v0409.1183_altered_v04-1600x844.jpg)
Avatar, diga-se, foi o expoente máximo do cinema enquanto espetáculo, apostando fortemente na tecnologia 3D, por forma que a experiência total apenas pudesse ser vivida em sala – aparecia, em 2009, já como resposta cabal às ofertas do pequeno ecrã. Quando a Academia de Hollywood, para grande surpresa, não atribuiu, em 2010, os Oscars de melhor filme e de melhor realizador a James Cameron, preferindo Estado de Guerra, de Kathryn Bigelow, a sua ex-mulher (e a primeira cineasta a receber a estatueta dourada de melhor realizadora), de alguma forma assinalou o início da queda da nova vaga de tridimensionalidade do cinema, que entretanto ficou reduzida a algum cinema de género.
É importante para uma sequela respeitar aquilo de que o público mais gostou no primeiro filme, mas também deve surpreender
James cameron
Contudo, não seria justo reduzir Avatar a um prodígio tecnológico – muito embora os milhões de dólares investidos tenham feito disso a sua mais visível virtude. Avatar é um daqueles filmes capazes de criar um universo próprio (como O Senhor dos Anéis, por exemplo), ou, como diz Jon Landau, que coproduziu os filmes: “James Cameron tem a capacidade de construir filmes que superam os próprios géneros em que se inserem.”
Cameron explica parte do conceito: “É importante para uma sequela respeitar aquilo de que o público mais gostou no primeiro filme, mas também deve surpreender. Há muitas surpresas no decorrer da história, que não podemos mostrar nos trailers, para que as pessoas não percam a experiência nos cinemas. Mas o filme também vai mais fundo em termos emocionais.”
Pais e filhos
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/12/221215_2157_0070_v0520.0001-1600x843.jpg)
Uma das ideias iniciais é que os heróis de Avatar são agora pais e que tal muda o sentido de responsabilidade e de perceção do risco. “É-se mais destemido quando não se tem filhos; só com filhos é que se aprende a ter medo, porque é algo maior do que nós próprios e que podemos perder”, diz Cameron. Não será indiferente que James Cameron tenha cinco filhos e que os atores Sam Worthington e Zoë Saldaña tenham sido pais recentemente. É uma questão de identificação. Zoë reconhece mesmo a proximidade com a personagem que representa: “Quando algo é demasiado parecido connosco, não conseguimos ver bem. Só agora me apercebi de que eu e a Neytiri vivemos vidas paralelas, comungo com ela a coragem e a rebeldia.” Já Sam Worthington antecipa: “A minha personagem abre os seus olhos para o amor… É tudo sobre proteção e amor.” Diga-se que Neytiri é tão corajosa que, mesmo grávida de seis meses, enfrenta uma batalha – pelo futuro dos filhos, tem de defender Pandora.
Só agora me apercebi de que eu e a Neytiri vivemos vidas paralelas, comungo com ela a coragem e a rebeldia
Zoë Saldaña
Stephen Lang e Sigourney Weaver também estão de volta. Stephen reconhece as mudanças em Quaritch: “A personagem do primeiro filme é fantástica, colorida, mas sobretudo move-se como um tubarão irracional; no novo filme, acrescenta-se-lhe uma ironia magnífica. Foi um grande prazer trazê-lo de volta.” Já Kiri sofreu uma reinvenção radical, transformando-se numa adolescente. Sigourney Weaver explica: “Tive a sorte de ter muito tempo para preparar a personagem, fui a aulas nas escolas para ver como os miúdos falam, entre outras coisas… Até que achei que podia deixa a Kiri sair. Ela é uma mistura entre o que pesquisei e quem eu era aos 15 anos.”
O recorde de Kate
Novidade em O Caminho da Água é Kate Winslet, que não esconde o entusiasmo em entrar neste universo. Recorde-se que a atriz trabalhara com Cameron em Titanic, outro dos seus grandes êxitos de bilheteira. Winslet elogia o trabalho de escrita do realizador e argumentista: “O James escreve para personagens femininas que não são apenas fortes; elas são líderes, comandam com o seu coração.”
Alegadamente, a atriz terá batido o recorde de Tom Cruise (em Missão Impossível) ao aguentar sete minutos e 15 segundos sem respirar (face aos míticos seis minutos e 35 segundos do ator norte-americano). “Não foi nenhuma competição, fazia parte da personagem”, explica, mas sem disfarçar a satisfação pelo feito.
Curiosamente, apesar do orçamento de milhões, Cameron afirma que prefere trabalhar com uma equipa relativamente reduzida. Isso tem que ver com um conceito familiar de trabalho, uma ideia que contrasta com a exuberância da produção.
De resto, como explica Sam Worthington, para melhor entenderem o percurso das suas personagens, foi entregue aos atores o guião de “um Avatar 1,5”, que explicava o que se tinha passado entre os dois filmes. Isso ajudou a consolidar a narrativa e aquelas vidas ficcionadas.
Tudo o resto é James Cameron a trabalhar ao seu estilo, explorando as emoções, recriando universos e virando-se para um grande público, que poderá ser verdadeiramente transcontinental, aproveitando, claro está, todo o trabalho de construção feito no filme de 2009, que até recorreu a um linguista para criar o idioma dos Na’vi.
O segredo do sucesso
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/12/221215_2365_0110_v0409.1183_altered_v01-1600x843.jpg)
James Cameron, como se sabe, fez uma autêntica fábrica de sucessos comerciais, a começar por Titanic, em 1997, que foi, durante muitos anos, o filme mais lucrativo da História, com uma receita superior a 2 200 milhões de dólares. Mas também assinou outras obras de forte impacto junto do grande público, como as sagas Aliens e Exterminador Implacável. Apesar do brutal investimento da Disney – que agora também produz o novo Avatar (o primeiro era da Fox) – em filmes como Os Vingadores e Piratas das Caraíbas (os mais caros de sempre, com orçamentos superiores a 300 milhões de dólares), o primeiro Avatar mantém-se, ao longo de mais de uma década, imperturbável no topo dos filmes mais lucrativos de todos os tempos.
O segredo parece ser a mistura entre uma espetacularidade, que só se pode usufruir plenamente no grande ecrã, e uma vertente emocional e humana que toca a todos. No caso específico de Avatar, prevalece, ainda, uma mensagem ecológica, que colhe cada vez mais adeptos. Contudo, para Jon Landau, coprodutor dos dois filmes e que trabalha com Cameron há décadas, O Caminho da Água vai para além disso: “É um filme de coração e de emoção, que deixa uma mensagem para o nosso mundo, não apenas sobre o ambiente mas também sobre a necessidade de aceitar as pessoas e as suas diferenças.”
Uma coisa é certa: não será necessário esperar mais 13 anos para que a Disney avance com um novo Avatar. Já estão previstos três “episódios”, ao ritmo de um filme por ano, a começar em 2024. Estaremos perante um novo fenómeno Star Wars?
Números
Avatar, de 2009, foi o filme mais lucrativo de sempre, e a sequela, que no dia 15 se estreia nos cinemas, é a quarta produção cinematográfica mais cara de todos os tempos
2 922 Receita de Avatar (2009) em milhões de dólares
237 Orçamento do primeiro Avatar, em milhões de dólares
160 Número de países em que O Caminho da Água vai estrear-se
350 Orçamento de O Caminho da Água em milhões de dólares
Veja o trailer
Avatar – O Caminho da Água > De James Cameron, com Sam Worthington, Zoe Saldaña, Kate Winslet, Sigourney Weaver, Stephen Lang > 193 min.