1. Ágora, de Mark Bradford, Museu de Serralves
Nascido no caldo cultural de Los Angeles, o norte-americano Mark Bradford, 60 anos, trabalhou no cabeleireiro da mãe quando era jovem, aí autoassumindo o rótulo de agente da beleza, “beauty operator”. Algo espelhado nas suas colagens e pinturas abstratas: intrincadas tapeçarias de papel, em camadas texturizadas de grandes dimensões, algo devedoras da estética “suja” dos pósteres de rua “trabalhados” pelo tempo. São obras corajosas no uso da cor, nos padrões ritmados, na reinterpretação dos materiais quotidianos, a que o artista associa uma postura militante, reclamando atenção para as realidades e narrativas sociais das comunidades marginais, nomeadamente as comunidades negra e LGBT, e às pandemias das últimas décadas, da sida à Covid-19. Aliás, uma das suas obras mais espetaculares, produzida após a passagem do furacão Katrina para a bienal Prospect.1 New Orleans (2008-2009) refletia essa militância: uma colossal arca de Noé, feita com contentores e tábuas grafitadas com anúncios. Respeitado pela reinvenção pictórica no circuito internacional, Bradford apresenta-se pela primeira vez em Portugal com pinturas, tapeçarias e obras sobre papel, realizadas nos últimos três anos e inspiradas em mitos medievais dessa época também assolada pela peste – nomeadamente, as tapeçarias A Caça do Unicórnio, e o monstro Cérbero, cão de três cabeças do inferno –, induzindo a comparações e metáforas entre épocas. Museu de Serralves > R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 19 jun, seg-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €12
2. A Hora Antes do Pôr-do-Sol, de Milena Bonnilla, Galeria Municipal do Porto
A artista colombiana parte dos ensaios e cartas da filósofa e economista Rosa Luxemburgo – o título da mostra refere-se às palavras que escreveu, a partir da prisão, ao seu amigo Hans Diefenbach –, para propor a construção de um imaginário, que cruza literatura, botânica, referências históricas e mitologias coletivas. Um lugar mágico, entre o passado e o presente, onde se alcança uma temporalidade histórica suspensa. Neste projeto, com curadoria de curadoria de Juan Luis Toboso, Bonnilla continua a explorar os limites do arquivo como forma de articulação da memória coletiva. J.L. Galeria Municipal do Porto > R. D. Manuel II, Jardins do Palácio de Cristal, Porto > T. 22 507 3305 > até 13 fev, ter-dom 10h-18h > grátis
3. UIVO – Mostra de Ilustração da Maia
A 11ª edição, sob o tema Construções e imaginários para novas (?) utopias, apresenta uma exposição com trabalhos de mais de 40 artistas e ilustradores nacionais e internacionais, com curadoria de Cláudia Melo. Reúne nomes como Afonso Cruz, Ana Biscaia, Catarina Gomes, Clara Não, Diogo Cottim, Filipe Abranches, Helena Rocio Janeiro, Sérgio Condeço, Teresa Rego, Valter Hugo Mãe, Yara Kono, Madalena Matoso, Eva Evita, Cátia Vide, Liqen Jakala, entre outros. “Através de um conjunto de peças artísticas que se formalizam através da ilustração nas suas diversas categorias, juntam-se imaginários individuais que, em diálogo coletivo, apresentam-se como possíveis imagens dos ‘lugares ideais’”, refere o catálogo. As propostas estão assentes em diferentes expressões e materializações, como a ilustração digital, editorial, artística, gráfica, tridimensional e de carácter instalativo. Ao fim de semana decorrem oficinas para as famílias. Paralelamente, na 4ª edição da Uivinho – Mostra de Ilustração Infantil da Maia, reúnem-se os trabalhos resultantes do serviço educativo. J.L. Fórum da Maia > Pç. do Município > T. 22 940 8643 > até 20 fev, ter-dom 10h-22h > grátis
4. O Princípio da Incerteza: Manoel de Oliveira e Agustina Bessa-Luís, Casa do Cinema Manoel de Oliveira
Ao longo de cerca de 40 anos, muitas vezes se cruzaram os caminhos do realizador e da escritora. Esta exposição, com curadoria de António Preto, diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, propõe uma revisão deste diálogo criativo, descrito como “o consórcio mais fecundo das artes e das letras portuguesas dos últimos cem anos”. Iniciada em 1981, com a adaptação do romance Fanny Owen (1979) no filme Francisca, a colaboração de Oliveira com Agustina prolonga-se até 2005, data da realização de Espelho Mágico, que adapta para o grande ecrã A Alma dos Ricos (2002). Há, pelo menos, outros oito textos da escritora que habitam a obra do realizador – três romances, dois diálogos, uma peça de teatro, um conto e um discurso lido pela própria Agustina. Intersecções essenciais para o entendimento da obra de cada um deles. Documentos de trabalho, guiões, manuscritos, fotografias e outro material espelham esta relação. O programa paralelo da mostra inclui visitas orientadas, conferências, programação de cinema e o lançamento de uma publicação, com ensaios inéditos de diversos autores. J.L. Casa do Cinema Manoel de Oliveira > R. de Serralves, Porto > T. 22 615 6584 > seg-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €12
5. Depositorium 2, Museu Nacional Soares dos Reis
Explorar as relações entre a Arte e a Medicina é o propósito desta exposição, cujas obras foram escolhidas da reserva do Museu Nacional Soares dos Reis pelo Reitor da Universidade do Porto e pelos diretores das Faculdades de Medicina e Medicina Dentária e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar desta academia. “São estreitos os laços que unem este mundo profissional da saúde ao dos museus: ambos se assumem como guardiões, uns do património humano, do seu corpo e da sua mente, e outros do património cultural, material e imaterial. Nunca antes se complementaram tanto, sendo hoje, muitas vezes, a Arte prescrita como uma terapêutica e forma de prevenção da doença”, refere António Ponte, diretor do museu. Depositorium 2 inclui peças das coleções de cerâmica, desenho, escultura, lapidária e pintura, assinadas por artistas portugueses como Artur Loureiro, Aurélia de Sousa, José Malhoa, Soares dos Reis e Teixeira Lopes (pai). J.L. Museu Nacional Soares dos Reis > Palácio dos Carrancas, R. D. Manuel II, Porto > T. 22 339 3770 > até jun, ter-dom 10h-18h > €3
6. Cintura, de José Pedro Cortes, Escola das Artes
O fotógrafo tem criado uma cartografia singular de paisagens, corpos, plantas, não lugares; um universo de narrativas não lineares que implicam uma cumplicidade tácita com o observador e com as figuras retratadas. Ainda que possamos criar um quadro de referências documentais para o confronto com estas imagens, há sempre algo que escapa: uma imperfeição, uma falsa simplicidade. Nos últimos anos, o fotógrafo assumiu estar a abrir novos caminhos na sua prática artística, tanto ao nível das ferramentas como das referências. Cintura, com curadoria de Sylvia Chivaratanond, admite uma proximidade com a biografia de Cortes: as 60 fotografias agora apresentadas exploram as estruturas da VCI, o conjunto de autoestradas e anéis circulares que ligam as pontes do centro do Porto à periferia da cidade ao longo do rio Douro, com origem na década de 1960 e ampliada em 1989, e que acompanhou o crescimento do próprio José Pedro. É-nos anunciado que estas imagens evocam momentos íntimos, misteriosos e pessoais, um registo do teatro urbano em constante fluxo, ou uma “metáfora sobre a cultura contemporânea, ou talvez a falta dela”. Entre vivências humanas e desumanização do território, esta exposição é um fio de Ariadne a seguir. Escola das Artes – Universidade Católica Portuguesa > R. de Diogo Botelho, 1327, Porto > T. 22 619 6200 > até 17 dez, ter-sex 14h-19h > grátis
7. Entrelaçar, de Ai Wei Wei, Parque e Museu de Serralves
Após a exibição da grande retrospetiva na Cordoaria Nacional, em Lisboa, Ai Wei Wei apresentou um novo corpo de trabalho no Parque e na sala principal do Museu de Serralves. Reconhecido pela sua postura crítica face ao regime chinês, o artista revelou-se imbuído pelas preocupações ambientais – o que poderia ser sempre apercebido como outra forma de denunciar a ação prepotente e dominadora do Homem, agora sobre a Natureza. Entrelaçar apresenta vários trabalhos de escalas diferentes, incluindo Duas Figuras, Mutuophagia (cuja imagem representando Ai Wei Wei nu, deitado sobre uma abundância de melancias abertas, ananases, bananas, cocos, mamões, como uma espécie de Adão sucumbido à tentação, parece evocar outros interditos de ressonância bíblica), e a escultura monumental Pequi Vinagreiro. Instalada no Parque de Serralves, esta peça em ferro fundido, com mais de 30 metros de altura e 300 toneladas de peso, criada entre 2018 e 2020, faz referência direta a uma espécie de árvore brasileira em vias de extinção e à desflorestação da Mata Atlântica brasileira – e a sua silhueta altaneira, erguida acima das árvores do parque portuense, ficará aí patente até 9 de julho do próximo ano. A exposição comissariada por Philippe Vergne, diretor do Museu de Serralves, e pela curadora Paula Fernandes, inclui ainda o filme Uma Árvore – um making of da construção de Pequi Vinagreiro. Museu de Serralves > R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 5 fev, seg-sex, 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €12
8. Germano Arquivo, Casa do Infante
Por ocasião dos 90 anos do jornalista e escritor Germano Silva, celebrados este ano, o Museu da Cidade apresentou na Casa do Infante a exposição Germano Arquivo. Partindo do vasto e valioso acervo por ele doado ao Arquivo Municipal, reúnem-se ali manuscritos, monografias impressas, correspondência, cartazes, álbuns de fotografias e muitos documentos. Cronista de narrativas e memórias do Porto, Germano colecionou, nos últimos 70 anos, um singular conjunto de objetos representativos de diferentes períodos da vida da cidade e, grande parte, envolvida em episódios curiosos. Ordenada com a sua cumplicidade, a exposição permite não só conhecer cada um deles, bem como ouvir as histórias pela voz do seu colecionador. S.S.O. Casa do Infante > R. da Alfândega 10, Porto > até 16 jan, ter-dom 10h-17h30 > grátis
9. Prémio Estação Imagem, Centro Português de Fotografia
O galardão nacional é o único dedicado ao fotojornalismo na Península Ibérica. As lutas contra a Covid-19 são, claro, um tema incontornável da 12ª edição, que premeia trabalhos feitos em 2020. Gonçalo Delgado foi o vencedor do Prémio Estação Imagem com uma reportagem do fotojornalista no Hospital de Braga nas unidades de cuidados intensivos e de obstetrícia durante o período negro das infeções de Covid-19. A fotografia do ano foi entregue ao galego Brais Lourenzo Couto: a imagem de uma idosa a celebrar os 98 anos numa residência de idosos em Ourense. Centro Português de Fotografia > Antiga Cadeia e Tribunal da Relação do Porto, Lg. Amor de Perdição, Porto > até 7 de mar, ter-sex 10h-18h, sáb-dom 15h-18h > grátis
10. O Guardador do Sol, de José Rodrigues, Casa Comum
É com uma exposição inclusiva que a Universidade do Porto celebra os 85 anos do nascimento de José Rodrigues (1936-2016). Trata-se de uma retrospetiva da vida e obra do artista centrada no período em que esteve na guerra colonial. Ao longo de três salas, há cerca de 70 obras, excertos de correspondência e um vídeo onde o escultor fala da experiência vivida em Angola. Além de peças criadas logo a seguir à guerra, onde a sua influência está muito vincada, encontram-se desenhos da escultura O Guardador do Sol, que dá título à exposição, apresentada como prova de conclusão do curso de escultura na Escola de Belas-Artes da Universidade do Porto, à qual foi atribuída uma nota de 20 valores. Além do impacto da guerra colonial, nesta mostra procura-se cumprir a vontade de José Rodrigues em tornar a arte acessível a todos. Nesse sentido é possível não só ver, como tatear e ouvir explicações sobre grande parte das obras. S.S.O. Casa Comum > Reitoria da Universidade do Porto, Pç. Gomes Teixeira, Porto > T. 22 040 8000 > até 30 dez, seg-sex 10h-13h, 14h30-17h30, sáb 15h-18h > grátis
11. Pedro Tudela na Coleção de Serralves, Museu de Serralves
Nove trabalhos de Pedro Tudela, pertencentes à Coleção de Serralves, dão a conhecer o percurso de 30 anos do artista plástico, que começou na pintura e se foi destacando noutras áreas como o som, a escultura, a performance ou a música eletrónica experimental. Entre as obras, datadas de 1990 a 2019, destacam-se Rastos (1997), no átrio do museu, escultura com fitas magnéticas e altifalantes (uma das primeiras peças do artista a incluir som); Sobre (2004), incluída na individual que Tudela fez no Museu de Serralves; A Idade do Cacifo (1997); a série D’Heart Side (1994), em que se evoca a fragilidade da vida; e uma das mais antigas, a pintura Stereo: Even Flowers Can Hear You. “O som é uma matéria elástica”, diz o artista. Para o diretor do Museu, Philippe Vergne, divulgar a coleção é “mostrar o coração e a alma” de Serralves. F.A. Museu de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 6 mar, seg-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €12
12. Erro 417: Expectativa Falhada, Galeria Municipal do Porto
A curadora Marta Espiridião debruça-se sobre noções de falhanço e sucesso. Potenciadas pelo sistema económico capitalista, o receio de errar ou ficar aquém das expectativas está ligado a diversas condicionantes estruturais – como a cor da pele, o género, a sexualidade, entre outras. Já no que diz respeito à produção artística, a insatisfação, a rejeição, a dúvida, o erro e a experiência, a ideia de sucessivamente tentar e falhar torna-se combustível para a experimentação e para a criação conceptual. Assumindo a premissa do falhanço, esta exposição procura questionar modelos preestabelecidos, trazendo para essa reflexão propostas de artistas como Alice dos Reis, Aliza Shvarts, Ana Hipólito, Carlota Bóia Neto, Catarina Real, Daniela Ângelo, Elisa Azevedo, Gisela Casimiro, Hilda de Paulo, Jota Mombaça, Odete e Xavier Paes. J.L. Galeria Municipal do Porto > R. D. Manuel II, Jardins do Palácio de Cristal, Porto > T. 22 507 3305 > 11 dez-13 fev, ter-dom 10h-18h
13. Signos e Figurações, de Joan Miró, Casa de Serralves
Após ter sido mostrada pela primeira vez na Casa de Serralves, em 2016, a Coleção Miró – propriedade do Estado Português, depositada na Fundação de Serralves – voltou ao edifício Arte Déco. Mas com algumas diferenças em relação à mostra anterior, a começar pelo restauro da casa a cargo de Álvaro Siza. Os 85 trabalhos (pinturas, esculturas, desenhos, colagens e tapeçarias) de Signos e Figurações, com curadoria de Robert Lubar Messeri, estudioso da obra do artista catalão, representam seis décadas de trabalho de Miró (de 1924 a 1981), sem um formato cronológico ou linear. As várias salas da exposição, explica o curador, “abordam diferentes aspetos da arte de Miró: o desenvolvimento de uma linguagem de signos; o encontro do artista com a pintura abstrata que se fazia na Europa e na América; o seu interesse pelo processo e pelo gesto expressivo; as suas complexas respostas ao drama social dos anos 1930; a inovadora abordagem da colagem; o impacto da estética do sudoeste asiático na sua prática do desenho; e, acima de tudo, a sua incessante curiosidade pela natureza dos materiais”. Outra particularidade é o facto de se mostrar o trabalho de conservação e restauro de obras ao vivo. Às quintas e sextas, é possível ver a conservadora Rita Maltieira a restaurar duas tapeçarias de Miró, as Sobreteixims 4 e 5 (Sobretecidos), que fazem parte de um conjunto de 33 peças executadas pelo artista entre 1972 e 1973, com sarapilheira, feltro de lã, cordas grosas de estopa e tintas acrílicas. “É uma forma de aproximar os visitantes ao que se faz nos bastidores de um museu”, diz Rita Maltieira. F.A. Casa de Serralves > R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 6 mar, seg-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €12