Ver o letreiro do Hotel Ritz iluminado, e as suas letras gigantes com linhas inspiradas na art déco, evocadoras de uma era de sofisticação passada, é uma viagem no tempo assim como uma lição sobre a relação entre forma e função. Mas ao passear pelo espaço de estacionamento do Prata Riverside Village, em Lisboa, há muitos mais case studies para contemplar – cerca de setenta peças luminosas estão aí patentes no âmbito da exposição Brilha Rio.
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O Ritz é só um dos muitos néons e letreiros do Projeto Letreiro Galeria, que, desde 2014, se tem dedicado ao levantamento e resgate de exemplares de design urbano e lettering luminoso. E o projeto, sublinhe-se, é abrir um museu onde possam albergar as duas centenas e meia de exemplares do património gráfico urbano já acumulados por Rita Múrias e Paulo Barata, designer de formação. Enquanto essa bela e romântica ideia não se concretiza, há que aproveitar as oportunidades para rever estas esculturas quotidianas.
Os néons de vários tamanhos e formatos (caixas de luz, tabuletas de vidro ou de plástico, portas corta-vento, letras em metal, logótipos animados com caricaturas ou animais), agora patentes junto aos edifícios de Renzo Piano, criavam uma corrente de comunicação nas fachadas urbanas. Retirados da sua função primeira, revelam outras propriedades: a imaginação formal com pouco ingredientes, as histórias de bairro, de dinastias familiares, todo um mapa de referências culturais.
Brilha Rio foi organizada por várias áreas temáticas: há alfaiates, marcas de automóveis, cabeleireiros, hotéis, marcas de vestuário, oculistas, restaurantes e bares icónicos, sapatarias. As peças foram resgatadas em Lisboa, Porto, Almada, Algarve, linha de Cascais e Vila Franca de Xira. Entre estas, há ícones urbanos reconhecíveis que fazem parte da memória coletiva e de muitos momentos particulares: por exemplo, o letreiro da Pastelaria Suíça, recentemente desaparecida da Praça do Rossio; o da sapataria Cerimónia que iluminou a Rua Alexandre Herculano; ou ainda o da Casa Frazão que morou tantos anos na Rua Augusta.
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Na exposição, há ainda espaço para letreiros construídos em torno de nomes e apelidos: Eleonora, Joaquim, Pereira… E uma das últimas aquisições desta coleção de tesouros gráficos é o painel de desenhos publicitários dos combustíveis BP que, durante 60 anos, esteve numa garagem da Rua Rodrigues Sampaio, na capital, e que é da autoria do ilustrador e autor de banda desenhada Fernando Bento. Estas cidades podem estar desaparecidas, mas as memórias mantêm-se ligadas à corrente.
Brilha Rio > Parque de Estacionamento Prata Riverside Village > Rua G à R. Fernando Palha, loja 4, Lisboa > T. 96 304 6105 > até 29 mai, sáb-dom 15h-20h > grátis