1. Hergé, Fundação Gulbenkian
A exposição dedicada a Hergé, patente na Gulbenkian, percorre toda a vida do criador de Tintim. Para muitos, será uma surpresa ver logo na primeira sala um conjunto de quadros que nada tem que ver com a banda desenhada – entre 1960 e 1964, Georges Remi (verdadeiro nome de Hergé) entusiasmou-se com a pintura abstrata. Num momento em que a BD ainda era, praticamente, um mundo por inventar, no início de carreira o jovem Georges terá acreditado que a sua vida profissional iria passar mais pela ilustração para cartazes publicitários e design gráfico, elementos também presentes nesta exposição (em 1934 Hergé fundaria, mesmo, uma empresa para essa área: Atelier Hergé-Publicité). Mas, claro, é Tintim, personagem a que se dedicou quase obsessivamente toda a vida, que domina as nove salas na galeria principal da Fundação Gulbenkian. Organizada em colaboração com o Museu Hergé de Louvain-la-Neuve, na Bélgica, a exposição reúne pranchas originais, pinturas, objetos, fotografias e documentos de arquivo. P.D.A. Fundação Calouste Gulbenkian – Edifício Sede > Av. de Berna, 45, Lisboa > T. 21 782 3000 > até 10 jan, seg, qua-qui, sáb-dom 10h-18h, sex 10h-21h > €5, grátis para portadores de cartão de estudante sex 18h-21h
2. João Abel Manta: A Máquina de Imagens, Palácio da Cidadela de Cascais
Há uma circularidade curiosa na História, um eterno retorno, se se quiser polir boas citações. Numa altura em que manobras de revisão, revisionismo e contextualização históricas estão na ordem do dia, é bem pertinente contemplar a obra de João Abel Manta, autor de alguns dos melhores cartoons produzidos sobre a queda de Salazar e o período revolucionário do 25 de Abril. O artista nonagenário, filho de pintores e hoje dedicado à pintura, precisou de esperar quase 30 anos para ter direito a uma segunda exposição dedicada à sua obra gráfica, que mantém acutilância. Num dos seus cartoons mais reconhecidos, Cinema, um pescador e uma varina da Nazaré fazem pose orgulhosa, ao lado da proa de um barco que bem evocaria o perfil inclinado do Padrão dos Descobrimentos, para um realizador fardado do regime e vigiado por carpideiras. Quem quiser, que escrutine outros ecos e entrelinhas com ressonância na atualidade por entre as centenas de peças, algumas inéditas, produzidas entre 1940 e os anos 2000, que agora se mostram, numa curadoria de Pedro Piedade Marques. Palácio da Cidadela de Cascais > Av. Rei Humberto II de Itália, 16, Cascais > T. 21 481 5660 > até 16 jan, ter-dom 10h-18h > €5
3. At Play: Arquitetura & Jogo, Garagem Sul – CCB
“Cada um de nós é um arquiteto brincalhão. Da cabana solitária à arca cosmopolita, construímos mundos que habitamos ou coabitamos. O mundo do jogo situa-se no misterioso intervalo que liga as nossas subjetividades à realidade exterior.” Palavras desafiantes, anunciadas a propósito desta exposição que nos afasta das noções mais mundanas em que temos por vezes avaliado a arquitetura – “ah, a arquitetura-estrela, ah, o arranha-céus novo e contestado…”. Comissariada pelo arquiteto e urbanista David Malaud, Arquitetura & Jogo ecoa conceitos e mestres como a pedagoga Maria Montessori, e as suas ideias de infância ativa, ou Aldo Rossi, e o seu surrealismo arquitetónico, ou ainda Isamu Noguchi, e as suas delicadas ruturas formais. Explora também ideias como as dos parques infantis, dos labirintos, dos mitos dos refúgios, do espaço público, da arte, da invenção, do apelo lúdico dos materiais de construção – seja o tijolo seja a areia com que as crianças brincam na praia… Isto é: a “criação de mundos”, recordando que tanto os jogos infantis como a prática da arquitetura sempre foram terreno fértil para a invenção de novos territórios. O jogo, a imaginação, as experiências construídas, as narrativas mitológicas são abordadas num modelo expositivo com desenhos originais, fotografias, maquetas e filmes, construído para apelar a todas as idades, crianças incluídas – estas terão, até, um escorrega, uma caixa de areia e uma torre à disposição para brincarem. Garagem Sul – Exposições de Arquitetura > Pç. do Império, Lisboa > T. 21 361 2614 > até 30 jan, ter-dom 10h-18h > €6
4. O Jazz na Banda Desenhada, Hot Clube de Portugal
A palavra está desgastada pelo uso como uma baqueta de bateria, mas é de paixão que tudo isto trata. O crítico e divulgador de jazz Leonel Santos revisitou a sua coleção de banda desenhada e encontrou reflexos da sua devoção em grandes autores. O Jazz na BD mostra biografias, várias histórias completas, cartoons, 15 pranchas individuais, e até o fanzine Jazzbanda (concebido por Geraldes Lino). É uma revisitação de obras de 30 autores, nacionais e estrangeiros, que inclui a seminal série A Pior Banda do Mundo, de José Carlos Fernandes, as criações mordazes de Robert Crumb, o traço inspirado de Youssef Daoudi sobre Thelonious Monk, o saxofonista Barney, da dupla Loustal e Paringaux, as narrativas autobiográficas de Harvey Pekar (famoso pela série American Splendor) – de quem se revelam, aqui, três histórias em que Pekar aborda o gosto pelo jazz ou o tempo em que escrevia em revistas sobre este género musical enquanto trabalhava num talho… De todos, autores ou editores, Leonel conseguiu autorização para reproduzir as pranchas. “Isto é uma homenagem destes autores de BD à paixão do jazz – a mesma paixão que eu senti.” Hot Clube de Portugal > Pç. da Alegria, 48, Lisboa > T. 21 346 0305 > até 31 dez, ter-sáb 22h-2h
5.Vieira da Silva e Arpad Szenes na Coleção Ilídio Pinho, Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva
Após o fim da exposição que colocou 17 obras de Vieira da Silva (1908-1992) ao lado de nomes significativos da arte contemporânea portuguesa, igualmente abrigados no acervo do colecionador Ilídio Pinho, regressa-se a um zoom intimista, centrado nas abstrações e linhas baléticas de Vieira e nas paisagens interiores de Arpad Szenes (1897-1985). Escreve Isabel Carlos que este núcleo de obras de Maria Helena Vieira da Silva é representativo das suas linhas temáticas e expressivas, “as bibliotecas, as cidades, os azulejos, os labirintos, as tramas e teias e, de um modo mais lato, o espaço, a luz e a perspetiva”. A pintura mais antiga de Vieira da Silva na exposição é de 1941: Sem Título, têmpera sobre cartão, um quadriculado intenso e descontínuo, em que se afundam figuras humanas, e que a curadora remete para a soturnidade dos sete anos de exílio vividos pelo casal no Brasil. E aqui estão “retratos” do atelier feitos por Arpad: cadeira, óculos, flores que evocam Matisse. Compreendidas entre 1940 e 1980, as pinturas recordam o processo criativo da artista: a sua escolha de cores por estações (vermelhos, no inverno; azuis-verdes, no verão), as suas composições de influência musical, a preparação. Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva > Pç. das Amoreiras, 56-58, Lisboa > T. 21 388 0044 > até 16 jan, qua-dom 10h-18h > €5
6. Nada Existe, de Rui Chafes, Galeria Filomena Soares
Foi nas esculturas que, na Idade Média, sobretudo no período gótico, eram colocadas nas igrejas que Rui Chafes encontrou a imagem que melhor retrataria o nosso tempo de pandemia e devastação. Ocas por dentro (escavadas para tirar peso à peça), são símbolos de um vazio que, embora escondido, acaba por ter tanta importância como o que se vê. O conjunto de 12 esculturas, realizadas no último ano e meio e que o artista expõe em Nada Existe, liga-se dessa forma à nossa experiência coletiva recente, ao mesmo tempo que prossegue a sua reflexão sobre a ideia da não distinção entre interior e exterior. Alguns destes “fragmentos e negras flores de espuma”, como Rui Chafes descreve no texto que escreveu para a mostra, apresentam-se no chão, num convite à humildade do visitante que, assim, talvez se lembre de “que, por vezes, é necessário olhar para baixo para nos elevarmos”. L.R.D. Galeria Filomena Soares > R. da Manutenção, 80, Lisboa > T. 21 862 4122 > até 20 nov, ter-sáb 10h-19h > grátis
7. Dia, de Carsten Höller, MAAT
Carsten Höller, belga nascido em 1961 e radicado na Suécia, foi cientista e especialista em Entomologia, antes da dedicação plena à arte. O seu percurso criativo assenta numa radical exploração de conceitos científicos em trabalhos de grande escala e em instalações tecnológicas. Dia reúne mais de 20 obras que exploram a luz e a escuridão; são esculturas, projeções e instalações, produzidas desde 1987, que o curador Vicente Todolí (ex-diretor do Museu de Serralves e atual diretor artístico da Fundação Pirelli HangarBicocca) dispôs dentro e fora da concha arquitetónica do MAAT, sem recorrer a estruturas de suporte nem a sistemas de iluminação. As peças de Carsten Höller habitam livremente no espaço, iluminado apenas por elas próprias, e interagem com o público através de “uma sequência de experiências multissensoriais de perceção alterada”. MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Lisboa > T. 21 002 8130 > até 28 fev, qua-seg 11h-19h > €5
8. Rapture, de Ai Weiwei, Cordoaria Nacional
Entre o real e o espiritual, a mitologia e a memória, as tecnologias e as técnicas centenárias, a mostra inédita em Portugal do artista chinês (agora a residir no Alentejo), permite uma panorâmica da sua obra contestatária e autobiográfica, contida entre os anos 1980 e a atualidade. Rapture apresenta trabalhos incontornáveis, como é o caso de Law of The Journey – Prototype B, essa gigantesca barcaça negra e espectral atulhada de refugiados, as fotogénicas figuras do zodíaco chinês aqui declinadas em vários materiais (lego, materiais preciosos…), a gigantesca Snake Ceiling a ondular no tecto, criada com mochilas para recordar os estudantes que morreram no sismo de Sichuan em 2008, ou o amontoado de dezenas de veículos das Bicicletas Forever. A estes, o curador Marcello Dantas juntou vídeos que narram as memórias e o percurso internacional do artista, ou as criaturas mitológicas criadas em seda e bambu, que se dependuram da gigantesca nave da Cordoaria, criando espetacularidade e maravilhamento – ilusórios? Cordoaria Nacional > Av. da Índia, Lisboa > T. 21 363 7635 > até 28 nov, seg-dom 10h30-19h30 > €13 a €15
9. Visões de Dante. O Inferno segundo Botticelli, Fundação Gulbenkian
Não é difícil perceber por que razão tantos artistas têm revisitado A Divina Comédia. Aos mundos fantásticos do além, que o escritor italiano nos oferece, junta-se a escrita “quase cinematográfica” que muitos estudiosos têm salientado. A exposição Visões de Dante, com que a Gulbenkian se associa às comemorações dos 700 anos da morte do escritor, é um exemplo eloquente dessa enorme influência. Tem como ponto de partida a revisitação que o pintor italiano Sandro Botticelli fez do Inferno. A estes dois desenhos da Biblioteca Apostólica Vaticana juntam-se várias obras da coleção Gulbenkian, nomeadamente a escultura A Eterna Primavera, de Auguste Rodin, criada quando o escultor francês estava mergulhado na obra de Dante e na criação da célebre Porta do Inferno para o Museu das Artes Decorativas de Paris. Entre outras peças, temos ainda a série de Rui Chafes, também ele seduzido pelo universo dantesco, e as diversas edições manuscritas d’A Divina Comédia, do Vaticano e de outras instituições e colecionadores, com destaque para a organizada por Boccaccio, o primeiro grande divulgador e biógrafo de Dante. A exposição, patente até 29 de novembro, é acompanhada por um ciclo de conferências, sempre no auditório 2 da fundação, às 19h, sendo a última a de Alberto Manguel, a 24 de novembro, sobre a sua experiência de Ler Dante. Museu Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45, Lisboa > T. 21 782 3000 > até 29 nov, seg, qua-dom 10h-18h > €10 (bilhete museu), grátis dom a partir das 14h