Hoje, celebra-se o artesanato como força criativa global que muda mentalidades, adota sustentabilidade, cria maior sensibilidade ao Outro e às pertenças identitárias – e à sua indevida apropriação por agentes alheios. Percorram-se cerca de seis séculos, contemplem-se as 150 peças pertencentes à Coleção Távora Sequeira Pinto, agora patentes em Histórias de um Império, e faça-se um exercício provocatório de aplicar esses mesmos “óculos” ao artesanato resultante dos Descobrimentos (termo hoje investido de releituras e de deslocamentos)…
Acervo dedicado à “cultura material” resultante da Expansão Marítima portuguesa no Oriente, esta exposição evoca encontros, influências, aculturações (mais ou menos “diplomáticos”, mais ou menos musculados) entre portugueses e asiáticos, sob a forma de objetos preciosos. Uma história que dispensa a organização cronológica, arrumando-se em oito “histórias” comissariadas por Nuno Vassallo e Silva: A viagem das formas; Religião; Poder; Um mundo precioso; Colecionismo e Ciência; Quando éramos exóticos; O mundo do marfim; Na busca da laca.
Abordando a “arte de colecionar”, evocando a tradição europeia dos Gabinetes de Curiosidades – as coleções de objetos e espécimes exóticos, precursoras dos museus –, aqui se revelam cofres de rendilhados delicados, caixas de laca ou madeiras exóticas, figuras adornadas de coral ou esculpidas em marfim (como um expressivo e paradoxal menino Jesus namban do século XVI), móveis contadores, biombos e oratórios, uma pedra de bezoar (pedras investidas de poderes curativos), cadeiras e custódias, olifantes e relicários, adagas e polvorinhos, um caquesseitão mitológico de que falou Fernão Mendes Pinto… Podemos já não olhar estes tesouros com inocência, mas o fascínio persiste.
Histórias de um Império > Museu do Oriente > Av. Brasília, Doca Alcântara Norte > T. 21 358 5200 > até 2 out, ter-qui 10h-18h, sex 10h-20h, sáb-dom 10h-18h > €6