Italo Calvino criou uma mitologia arquitetónica na obra As Cidades Invisíveis: aí, Marco Polo descrevia urbes fantásticas, cidades microscópicas ou assentes em teias de aranha, ao imperador Kublai Khan. O escritor diria que o livro evocava uma ideia atemporal de cidade, mas também uma “discussão sobre a cidade moderna”. Mas era a beleza que ficava… As cidades e as criações arquitetónicas de Nadir Afonso (1920-2013) também convocam um espaço formal próprio: o pioneiro da arte cinética, arquiteto que colaborou com Niemeyer e Le Corbusier, adotou a harmonia da geometria como fundamento da arte, explorando o movimento, as abstrações, a estilização de elementos arquitetónicos, os frisos egípcios e a cor, para criar paisagens urbanas imediatamente reconhecíveis. A sua teoria estética era ilusoriamente simples: a arte era puramente objetiva, regida por leis matemáticas.
Duas retrospetivas da sua obra chegam agora a Lisboa, apresentando uma panorâmica abrangente dos vários períodos criativos de Nadir Afonso, e trabalhos inéditos. A Biblioteca Nacional acolhe uma versão condensada da exposição 100 Anos Nadir, que esteve patente no Porto: 115 trabalhos de várias escalas, entre obras e estudos, percorrem as mais de sete décadas de atividade do pintor, incluindo as pinturas Espacilimités, dominadas por fundos brancos em que formas curvas e convexas, ogivas e polígonos se espraiam.
No âmbito da 11ª edição do programa A Arte Chegou ao Colombo, 100 Anos Nadir Afonso apresenta 40 obras, datadas entre 1947 e 2010: 20 pinturas, 14 guaches inéditos, nove esboços de arquitetura e ainda a maqueta do Museu Nadir Afonso, em Chaves, projetado por Siza Vieira. E, aqui, haverá uma experiência imersiva de videomapping aplicada a cinco pinturas do artista. Cidades visíveis para todos.
100 Anos Nadir > Biblioteca Nacional de Portugal > Campo Grande, 83, Lisboa > T. 21 798 2168 > até 18 set, seg-sex 9h30-17h30, sáb 9h30-17h30 > grátis > Centro Comercial Colombo > Av. Lusíada, Lisboa > 27 jul-12 set, seg-dom 8h-22h30 > grátis