Hong Sang-soo não é um realizador desconhecido em Portugal, mas os seus filmes estrearam-se por cá em ritmo intermitente. Desta vez, a Midas não está com meias-medidas e, a propósito da estreia A Mulher que Fugiu, leva a sala outras três obras recentes do mesmo realizador: O Filme do Oki, O Dia em que Ele Chega e Mulher na Praia. Chamam-lhe um “acontecimento cinematográfico”, mas é sobretudo uma chamada de atenção para um dos mais fascinantes e originais autores do cinema contemporâneo, alguém que soube construir a sua própria semântica.
Todos estes filmes, juntamente com as outras obras conhecidas em Portugal do realizador – Noite e Dia, Sítio Certo, História Errada e Noutro País –, ajudam a identificar traços persistentes da linguagem do realizador sul-coreano.
Nascido em 1960, em Seul, Hong Sang-soo já realizou mais de 20 longas-metragens e recebeu mais de 50 prémios em alguns dos mais importantes festivais do mundo, incluindo Cannes, Berlim, Locarno e Roterdão.
Um deles é a ideia de loop. Tal como Hal Hartley em Flirt conta a mesma história três vezes mudando o contexto e a natureza das personagens, Sang-soo trabalha a repetição constantemente. Em alguns casos fá-lo de forma artificial e minimal, noutros inserindo-a naturalmente na realidade, ilustrando a própria repetição do quotidiano, como acontece na cadência de A Mulher que Fugiu, quando a protagonista repete gestos na visita a diferentes velhos amigos aproveitando uma rara ausência do marido.
Esta ideia de repetição e de “estudo” sobre as coincidências (como assume em O Dia que Ele Chega) serve a natureza dos próprios argumentos, que se focam muitas vezes na banalidade quotidiana, com personagens perdidas, em universos fechados, tendo o álcool como escape ou ponto de encontro.
Esteticamente, o traço mais arrojado é a utilização do zoom, ferramenta que poucos realizadores arriscam e que pode facilmente arruinar um filme. Sang-soo usa-a de forma algo experimental, mas ao mesmo tempo meticulosamente planeada, não abusiva, como um ingrediente que enriquece o plano estético em alternativa ao movimento de câmara.
Estes quatro filmes de Sang-soo merecem ser vistos quase de seguida até porque, como adepto do loop, o sul-coreano integra aquele grupo de grandes realizadores que, de certa maneira, fazem sempre o mesmo filme. E cada nova obra dá sentido à anterior.
A Mulher que Fugiu > com Kim Min-hee, Song Seon-mi e Eun-mi Lee, 77 minutos > O Filme de Oki > com Lee Sunkyun, Jung Yumi e Moon Sungkeun, 81 minutos > O Dia em que Ele Chega > com Yu Junsang, Kim Sangjoong, Song Sunmi e Kim Bokyung, 79 minutos > Mulher na Praia > com Kim Seung Woo, Ko Hyun Joung, Kim Tae Woo e Song Sun Mi, 129 minutos