É sempre com um entusiasmo sem fim que se revê a obra de Eduardo Batarda. No caso de Great Moments, trata-se da produção do artista correspondente à década de 70 do século passado. Como diz o outro, é fazer as contas: há aqui quadros a caminho dos 50 anos. E é o próprio Batarda que, numa conversa solta com os curadores da exposição, pede que nos divirtamos a olhar para estes seus trabalhos: “Se tiverem paciência, vejam-nos com tempo. Leiam-lhe as patetices, os trocadilhos parvos, as referências diferentes e múltiplas linguagens visuais. Não chamem a isso ‘excessivo’. Não falem em ‘delírio’. Não exagerem.” O seu desejo é uma ordem: assim faremos, mestre Bastarda.
Em 1971, Eduardo Batarda foi estudar para Londres. Muitos dos trabalhos realizados nos anos seguintes são produto dessa experiência
Great Moments: Eduardo Batarda nos anos 70 reúne 42 obras, habitualmente dispersas por diversas coleções privadas e públicas. Para os mais familiarizados com a obra do pintor, são quadros muito diferentes do que o artista viria a fazer logo na década seguinte. Em 1971, Batarda foi para Londres, para estudar no Royal College of Art, com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. A referência biográfica é importante porque o que o artista viria a fazer é produto dessa vibração londrina. Naqueles trabalhos, muita aguarela e tinta da China, tudo acontece. Imagens estereotipadas, militares, marinheiros, artistas, fragmentos do corpo humano, órgãos sexuais, objetos com as mais variadas proveniências.
Em suma, (pequenos) grandes momentos, como diz o título da exposição com toda a ironia. Das artes ditas menores à cultura popular, passando pela banda desenhada, tudo serve para compor espirais e espirais de significados, de leituras sobre o dito e o não dito, sobre a própria obra em si.
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Os curadores, João Mourão e Luís Silva, sublinham o facto de Great Moments poder ainda vir a ter o interesse adicional de revelar às gerações de artistas mais novos um conjunto de obras pouco exibidas. “Batarda é um artista de artistas, é uma referência. E muitos dos jovens artistas nunca viram estes trabalhos contextualizados e expostos com este fôlego e abrangência”, defendem. Não há leituras políticas diretas para fazer, embora João Mourão sublinhe a necessidade de manter “aquele olhar irónico sobre a sociedade”. Acrescenta Luís Silva: “Ainda que os temas sejam dos anos 70, aquela estratégia continua a fazer sentido. Há ali uma crítica ao statu quo, é muito importante criar um espaço onde temas como a sexualidade, a repressão de costumes e o pós-colonialismo possam ser mostrados.” Mas, cautela, sem delírios nem exageros.
Great Moments: Eduardo Batarda nos anos 70 > Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva > Pç. das Amoreiras, 56, Lisboa > T. 21 388 0044/53 > até 17 jan, qua-dom 10h-18h > €5, dom até 14h grátis