Não deve haver quem visite o Mosteiro de Alcobaça sem passar nos túmulos do rei D. Pedro e de D. Inês que há sete séculos ali têm eterno descanso. A pedra gótica, trabalhada em blocos, inspirou Nuno Cardoso, diretor artístico do Teatro Nacional de São João (TNSJ), que encena a peça Castro, a partir do texto de António Ferreira, escrito na segunda metade do século XVI e focado na sentença de morte da rainha póstuma. No palco, recriou-se uma casa do século XXI. “Cria um jogo cenográfico que potencia o texto, trazendo-o para os tempos contemporâneos”, explica Nuno Cardoso.
A casa são na verdade três, habitada por oito personagens – os três vértices da tragédia amorosa, os seus conselheiros e o coro – que nunca chegam a cruzar-se. “São três histórias em paralelo que concorrem inexoravelmente para a tragédia. É uma peça que toda a gente sabe como vai acabar, o que de si também é interessante”, diz o encenador.
Apesar do mito secular e do português complexo de António Ferreira, as personagens em Castro são bem atuais – e não é só por habitarem uma casa mobilada à Ikea. “A sensação de vitória de Inês, a necessidade de rompimento de Pedro, a dilaceração do rei perante a obrigação são questões atuais que nos definem”, reflete Nuno Cardoso, que trouxe para a encenação influências do cinema melodramático de Douglas Sirk, dos anos 50 do século XX.
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Castro já tinha sido apresentada ao público. A peça estreou-se em Aveiro em março, passou pelo Festival de Almada e pelo palco do TNSJ. “Quem a vir agora parece que não mudou quase nada, mas mudou muito”, refere Nuno Cardoso. Depois de meses em cativeiro nas nossas próprias casas, e perante a tragédia atual – nas palavras de António Ferreira, “cativo é quem de si se vence” –, visitar a casa de Castro, defende o encenador, “adquire sentidos que não teria de forma tão palpável como agora”.
Castro > Teatro Nacional São João > Pç. da Batalha, 112, Porto > T. 22 340 1900 > até 12 set, qua, sáb 19h, qui-sex 21h, dom 16h > €10-€40 (camarote)