O branco, cor da loucura, extravasou o hospital e instalou-se no chão da casa, nas paredes, nos móveis. Dotou as personagens de bipolaridade, assanhou as relações de tia-sobrinho e tia-sobrinha, de mãe-filho, de médico-paciente, ao ponto de se tornarem sexuais, e agudizou a hipocrisia até ao limite do descaramento.
Falamos, não de uma pandemia, mas do clássico de Tennessee Williams Bruscamente no Verão Passado, aqui encenado por Carlos Avilez para o Teatro Experimental de Cascais, cuja estreia tem sido adiada desde o final de março e vai acontecer na 37ª edição do Festival de Almada (desta sexta, 3, a 5, no Teatro Joaquim Benite). Avilez deu a este retrato da sociedade sulista, abastada, dos EUA do primeiro terço do século XX uma representação cinematográfica, ao estilo da era de ouro de Hollywood. Tudo começa ao som de Summertime, na voz de Ella Fitzgerald. “Sempre gostei desta peça”, diz Avilez, “mas, da primeira vez que tentei fazê-la, estava proibida”.
Nesta edição atípica do Festival de Almada, destaque para as três produções que nos chegam de fora. De 15 a 19 de julho, pode ver-se Johan Padan a la Descoverta de le Americhe, monólogo de Dario Fo a dar vida a um veneziano que, para fugir da Inquisição, acompanha Cristóvão Colombo na sua quarta viagem à América. De Madrid chega Future Lovers (17 a 19), um exercício de imaginação do futuro pelas vozes de jovens que nasceram na viragem do milénio. E de Barcelona, Rebota Rebota y en Tu Cara Explota, criação de Agnès Mateus e Quim Tarrida (22 a 26), onde o corpo de Mateus desafia um palco tornado ambiente patriarcal.
37º Festival de Almada > Várias salas de Almada e Centro Cultural de Belém, em Lisboa > T. 21 273 9360 > 3-26 jul > €10-€15 (bilhetes), €50 (passe) > Programa completo: festival.ctalmada.pt/37fa-espectaculos